
Por Luan Julião
Ao longo do ano de 2025, as forças de segurança da Bahia deflagraram algumas das maiores operações policiais já realizadas no estado, mirando diretamente o núcleo operacional, financeiro e político de organizações criminosas com atuação local e interestadual.
As ofensivas representaram um avanço significativo na estratégia de asfixia financeira, prisão de lideranças e desarticulação das estruturas de comando de facções envolvidas com tráfico de drogas, homicídios, lavagem de dinheiro e corrupção.
Megaoperação Zimmer: ofensiva contra a estrutura de comando
Entre as principais ações está a Megaoperação Zimmer, coordenada pela Polícia Civil da Bahia, por meio do Departamento Especializado de Investigações Criminais (Deic). A ofensiva teve como alvo uma organização criminosa responsável por tráfico de drogas, homicídios, crimes patrimoniais e lavagem de dinheiro, com atuação na Bahia e em outros estados.

Ao todo, 46 pessoas foram presas, durante o cumprimento de 43 mandados de prisão e 48 de busca e apreensão. Entre os detidos está o capitão da Polícia Militar da Bahia Mauro das Neves Grunfeld, preso em um condomínio de alto padrão no bairro da Graça, em Salvador. Ele já havia sido capturado em 2024, durante a Operação Fogo Amigo, que também investigou a participação de agentes públicos em esquemas criminosos.
Operação Rainha do Sul: ataque ao braço financeiro do narcotráfico
A Operação Rainha do Sul desarticulou um núcleo estratégico do narcotráfico ligado ao Bonde do Maluco (BDM), com atuação interestadual e forte influência no Nordeste. A principal alvo da ofensiva foi a advogada Poliane França Gomes, conhecida como “Rainha do Sul”, apontada como uma das mulheres mais perigosas do tráfico de drogas da região.

Segundo a Polícia Civil, Poliane utilizava a condição de advogada para transmitir ordens, ameaças e orientações estratégicas entre lideranças da facção, inclusive com um dos chefes do grupo, preso desde 2013. Mensagens interceptadas durante a investigação revelam ameaças de morte a integrantes e rivais que descumprissem determinações da organização criminosa.
Além das prisões, a operação teve como foco o braço financeiro do BDM, com bloqueio de contas bancárias ligadas a 26 CPFs e CNPJs, podendo ultrapassar R$ 100 milhões.
Também foram apreendidos joias avaliadas em cerca de R$ 1 milhão, drogas, armas, veículos, um haras com cavalos de raça avaliado em R$ 3 milhões e uma usina de energia solar, evidenciando o esquema de lavagem de dinheiro estruturado pelo grupo.
Operação Freedom: cerco ao Comando Vermelho na Bahia
A Operação Freedom teve como objetivo desarticular o núcleo armado e financeiro do Comando Vermelho (CV) na Bahia. A ação foi deflagrada poucos dias após uma megaoperação contra a mesma facção no Rio de Janeiro, reforçando a integração entre as forças de segurança dos estados.

Entre os presos estão Luís Lázaro Santana Alves, conhecido como “LL”, apontado como chefe da facção no bairro da Liberdade, e Marielle Silva Santos, companheira dele e responsável pela gestão financeira do grupo criminoso.
Ao todo, foram cumpridos 90 mandados judiciais e bloqueadas 51 contas bancárias, além da apreensão de armas e drogas. A Polícia Civil aponta que a operação pode contribuir para a elucidação de pelo menos 30 homicídios na capital baiana.
Operação Costa Segura: repressão ao tráfico no sul da Bahia
A Operação Costa Segura mirou lideranças do Comando Vermelho responsáveis pelo fornecimento de armas e drogas no sul da Bahia. A principal alvo foi Kananda Hemerly Moreira, de 29 anos, viúva de um dos chefes da facção, que continuava coordenando ações criminosas mesmo após a morte do companheiro.

Segundo as investigações, Kananda atuava na negociação de armas de fogo, remessas de drogas e articulação logística do grupo, além de responder por estelionato após vender uma pistola por R$ 10 mil sem realizar a entrega. A operação resultou na prisão de 29 pessoas, em municípios baianos e nos estados do Rio de Janeiro e da Paraíba, e revelou a forte presença feminina em funções estratégicas do crime organizado.
Operação Anátema: crime organizado e infiltração política
A Operação Anátema revelou a infiltração direta do crime organizado no meio político baiano. A investigação apontou que o esquema criminoso, ligado ao Bonde do Maluco (BDM) e com conexão com o Primeiro Comando da Capital (PCC), movimentou mais de R$ 4,3 bilhões em operações ilícitas envolvendo tráfico de drogas, armas e lavagem de dinheiro.
Entre os presos está o vereador Ailton Leal (PT), do município de Santo Estevão, apontado como responsável por utilizar um posto de combustíveis para lavar dinheiro da facção. Outro político investigado é o vereador Marcão do Pipa (PSB), de Jaguarari, que teve imóvel alvo de busca e apreensão.
Também foram alvos da operação uma ex-candidata a vereadora e o irmão de um ex-vice-prefeito, evidenciando a existência de um núcleo político a serviço da organização criminosa.

Anátema – Fase 2: aprofundamento e novas prisões
A segunda fase da Operação Anátema deu continuidade às investigações contra o grupo criminoso comandado por Fábio Souza Santos, o “Geleia”, foragido desde 2023. A nova etapa resultou na prisão de seis pessoas, incluindo mais um vereador do interior da Bahia, além do cumprimento de mandados em diversos municípios baianos e em outros estados.
A Polícia Civil destacou que o aprofundamento das análises financeiras e patrimoniais fortaleceu a estratégia de desmontar a estrutura econômica, política e operacional da facção.
Estratégia de sufocamento das facções criminosas
Conjuntamente, essas operações evidenciam uma mudança de patamar no enfrentamento ao crime organizado na Bahia, com ações integradas, uso intensivo de inteligência, cooperação interestadual e foco na descapitalização das facções.
Mais do que prisões pontuais, as ofensivas buscam enfraquecer o poder econômico, logístico e político das organizações criminosas, reduzindo sua capacidade de articulação, expansão territorial e violência, e reafirmando a presença do Estado em áreas historicamente dominadas pelo crime.
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