DINHEIRO
Golpes de PIX e boletos geram prejuízo bilionário e atingem milhões no Brasil
Reportagem revela como fraudes digitais via PIX e boletos afetam milhões e mostra como se proteger dos golpes

Por Laura Pita*

Cada vez mais elaborados, os golpes financeiros envolvendo PIX e boletos bancários atingiram cerca de 24 milhões de brasileiros entre julho de 2024 e junho de 2025, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O prejuízo, estimado em cerca de R$ 29 bilhões, resulta da combinação entre o aumento da criminalidade, a facilidade das transações digitais e a vulnerabilidade dos usuários.
“O PIX, pela sua instantaneidade, cria um ambiente em que criminosos se aproveitam da pressa e da falta de conferência das informações. Já no caso dos boletos falsos, a fraude ocorre principalmente pela falsificação de códigos de barras e adulteração de links enviados por e-mail ou aplicativos de mensagens. Ambos os casos revelam como a sofisticação das práticas criminosas evoluiu junto ao avanço da digitalização financeira”, destaca a economista Cláudia Lessa.
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Para a economista, está aí uma das razões dos dados levantados serem tão alarmantes: “os criminosos estão mais rápidos em encontrar brechas do que a sociedade em desenvolver defesas”.
Cláudia destaca fatores que evidenciam esse cenário: a rápida popularização do PIX e dos pagamentos digitais, que ampliou a base de vítimas em potencial; a dificuldade de fiscalização diante do grande volume de transações diárias; e a defasagem entre a inovação tecnológica e a capacidade do consumidor médio de se proteger digitalmente.
A partir dessa vulnerabilidade, os criminosos encontram maneiras de atingir a vítima. "Observamos que as pessoas mais acometidas por esse tipo de golpe geralmente são idosos e pessoas de renda média para baixo. Então, você tem cenário onde se acaba sendo encantado por uma ilusão de ganhos imediatos em algumas ações voltadas para as questões financeiras, e você acaba sendo pego por esse tipo de encantamento”, explica o educador financeiro Edisio Freire.
Pedido de dinheiro
Foi essa estratégia que o criminoso usou para enganar uma vítima, que prefere não se identificar: “Ele me mandou mensagem dizendo que era o meu advogado, informando que a causa tinha sido ganha e que teríamos uma audiência com o juiz. Acreditei que se tratava mesmo do pagamento da causa, pensando no dinheiro, pois estou passando por dificuldades financeiras, como muitos aposentados”.
Para liberar a suposta audiência, a vítima foi coagida a fazer uma sequência de transferências via PIX. “O valor foi de quase R$ 2.365,00. No final, ainda pediu mais R$ 2,5 mil para 'efetivar o processo' e liberar o dinheiro para o juiz. Foi quando percebi que era um golpe”, relata.

Além disso, um outro fator importante para cativar vítimas é o vínculo emocional, como destaca Edisio: “Os golpes de PIX e boletos bancários geralmente são feitos via aplicativo de mensagem, onde o golpista se apresenta como se fosse uma pessoa conhecida”. Assim, o criminoso cria um cenário de perigo e vulnerabilidade, pedindo ajuda à vítima, que se sensibiliza pela relação de confiança.
Esse tipo de manipulação foi o que levou essa outra vítima a acreditar que estava ajudando o irmão.
“Eu estava em casa quando recebi uma mensagem pedindo dinheiro para um pagamento urgente, senão a pessoa perderia uma oportunidade. A mensagem parecia ser do meu irmão – usaram a foto dele em um perfil falso – e, dias antes, ele havia comentado que queria comprar um carro. Transferi mil reais para a conta dele. Depois, a pessoa disse que precisava de um valor maior e que eu deveria transferir diretamente para ela, não para o meu irmão. Consegui até convencer minha irmã a ajudar. No momento em que fizemos as transferências, meu irmão me enviou um comprovante dizendo que havia devolvido o valor daquele primeiro PIX que fiz para ele. Foi aí que percebi que tinha caído em um golpe”.
Em ambos os casos as vítimas denunciaram o golpe, mas muitas vezes a denúncia não é realizada. “O grande problema é que ainda tem uma subnotificação enorme. Muita gente não denuncia, seja por vergonha, por não saber como agir, ou porque acha que não vai recuperar o dinheiro”, afirma o advogado criminalista Ricardo Cathalá.
Busca por solução
“Se a pessoa cair em um golpe, o mais importante é agir rápido. Primeiro, bloquear o aplicativo bancário e ligar para o banco pedindo o registro de fraude e a ativação do chamado MED - Mecanismo Especial de Devolução do Banco Central. Depois, fazer um boletim de ocorrência com todos os detalhes da transação”, instrui o advogado. Sobre o funcionamento do MED, Ricardo explica.
“O banco da vítima tenta bloquear o dinheiro na conta do golpista, se ainda houver saldo lá. O prazo é curto, até 80 dias para acionar o banco, que terá 90 dias para analisar. Então, quanto mais rápido a vítima agir, maiores são as chances de recuperar o valor”.
Contudo, mesmo com as fraudes ficando cada vez mais ardilosas, é possível detectar sinais comuns entre eles antes de se tornar mais uma vítima, como alerta Ricardo.
“O golpista costuma colocar uma pressão enorme, dizendo que é urgente, que a pessoa precisa resolver na hora. Eles pedem dados pessoais, senha, ou até cobram taxa para o Pix – que, vale lembrar, é sempre gratuito. Minha recomendação é: quando juntar pressa, promessa de vantagem e pedido de informação pessoal, pode ter certeza que é golpe. Então, antes de agir, pare, respire, pense e desconfie. Essa pausa pode ser o que vai salvar seu dinheiro”.
*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló.
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