CIÊNCIA E VIDA
Diagnóstico de câncer de Joe Biden expõe alerta mundial sobre o problema de saúde
Biden enfrenta um câncer de próstata em estado avançado
Por Ana Cristina Pereira

A notícia de que Joe Biden, ex-presidente dos Estados Unidos, está com câncer de próstata em estado avançado, fez com que o assunto fosse um dos mais comentados da semana que passou. Aos 82 anos, o político veio ao público assim que a notícia começou a circular, com uma mensagem simples e resiliente: "O câncer nos afeta a todos. Como muitos de vocês, Jill e eu aprendemos que somos mais fortes nos momentos difíceis. Obrigado por nos ajudar com amor e apoio", escreveu Biden em uma rede social, ao postar uma foto com a companheira Jill Biden.
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Segundo o comunicado divulgado pela equipe do ex-presidente, ele enfrenta um câncer de próstata caracterizado por um escore de Gleason 9 (grau 5). A doença está em fase avançada, com metástase nos ossos.
"Embora represente uma forma mais agressiva da doença, o câncer parece ser sensível a hormônios, o que permite um tratamento eficaz", informou o gabinete do político.
Ainda de acordo com a nota, Biden foi examinado após apresentar desconforto urinário crescente e está avaliando, com a família e a equipe médica, a melhor forma de tratamento.
A opção pela hormonoterapia, já sugerida no comunicado inicial, provavelmente será a primeira escolha, avalia o oncologista baiano Rafael Batista, já que a idade de Biden desaconselha a cirurgia. Ele explica que, apesar da gravidade, o câncer de próstata em idosos é menos agressivo e responde muito bem ao bloqueio hormonal.
"É um procedimento simples, local, que faz o bloqueio da testosterona, o combustível do tumor. Uma vez que ela não é mais produzida, o tumor para de crescer", afirma o especialista, que atua na Rede Oncoclínicas e no Hospital Santa Izabel.
A terapia já tem algumas décadas de uso e é largamente empregada, inclusive para pacientes do SUS. Segundo Rafael, os principais efeitos colaterais são os fogachos, disfunção erétil e diminuição da libido, ainda que seja possível preservar a capacidade sexual do paciente.
"É preciso desmistificar que um diagnóstico de câncer de próstata é igual à morte. Mesmo com a doença na forma agressiva, ela terá tratamento e provavelmente será controlada", destaca o oncologista.
Estadiamento
No caso do ex-presidente americano, junto com a notícia, chamou atenção a classificação de grau 5, que significa o estágio em que o tumor se encontra e que é muito importante para definir o tratamento adequado. A escala, validada cientificamente, vai de 1 a 5.
No primeiro grau, o tumor assemelha-se ao tecido normal da próstata, e no último, representa uma célula danificada, com risco de se infiltrar em outros tecidos do organismo.
Mas um tumor em estágio inicial, explica o Dr. Rafael, também pode ser agressivo, por isso a importância do diagnóstico precoce, feito através dos exames de PSA e toque retal — que são simples e acessíveis.
Em caso de suspeita, pode ser feita uma biópsia e outros exames específicos, como os de imagem.
O tamanho e o tipo de tumor (se limitado à próstata ou não) irão determinar o tratamento, que também pode incluir sessões de quimioterapia, radioterapia, imunoterapia e cirurgia.
De acordo com o médico, o rastreamento, em pessoas com idade avançada, é controverso, pois, como este tipo de tumor tem crescimento lento e muitas vezes o paciente vai morrer com ele e não de suas consequências.
A convenção prevista pela Sociedade Brasileira de Urologia é que o rastreamento comece, para a maioria dos homens, a partir dos 50 anos, podendo ser mais cedo em negros e com histórico familiar de câncer.
"Mas temos esse grande problema, que é a cultura masculina de só ir ao médico quando já tem algum sintoma, o que pode diminuir muito as chances de cura", pontua.
Esse não foi o caso do corretor de imóveis Renan Mariano, de 71 anos. Em um exame de rotina, em julho de 1995, aos 40 anos, ele foi surpreendido com o pedido do urologista para fazer uma biópsia.
Era a primeira vez que ele fazia a prevenção, já alertado por casos na família, e se deparou com um tumor agressivo, ainda restrito à próstata, que foi eliminado na cirurgia.
Apesar da raridade de casos como o dele, seu Renan lembra que ficou mais assustado com a urgência de fazer a cirurgia do que com o diagnóstico em si.
Ele conta que seguiu fazendo acompanhamentos rotineiros e que, em 2004, os níveis do PSA no sangue começaram a subir. Depois, em novos exames, foi constatada a presença de células cancerígenas na parede pélvica.
Como é um local muito delicado e próximo ao reto, os médicos decidiram pela terapia hormonal, que ele faz desde 2007 com o Dr. Rafael.
E segue sua vida com normalidade, reforçando a importância da prevenção.
"Caso o câncer não tivesse sido detectado precocemente, talvez eu não estivesse aqui hoje."
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