ENTREVISTA
Cacá Leão promete, se eleito, trazer novos recursos pra Bahia
Candidato a senador do grupo de ACM Neto diz ter liberdade no PP para não apoiar Bolsonaro
Por Lucas Franco

Deputado federal com dois mandatos consecutivos, Cacá Leão (PP) disputará pela primeira vez o cargo de senador aos 42 anos. Candidatura mais recente a ser anunciada no pleito, Cacá assumiu o posto do seu pai, o vice-governador João Leão (PP), que deixou a disputa ao Senado para concorrer à Câmara.
Nesta entrevista exclusiva, o parlamentar, que já foi relator do orçamento na Câmara, diz como tem sido sua campanha, o que tem ouvido de demandas da população e o que pretende fazer caso alcance a vitória. Até o momento, o deputado federal tem como principais adversários Otto Alencar (PSD) e Raissa Soares (PL), que são os candidatos de Lula (PT) e Bolsonaro (PL), respectivamente.
Cacá Leão diz se sentir livre em sua legenda para não mostrar apoio explícito a nenhuma candidatura à Presidência da República e diz estar disposto para trabalhar pela Bahia independentemente de qual candidato ao Palácio do Planalto seja eleito.
Como você avalia sua campanha até o momento, incluindo o período de pré-campanha? Tem cumprido com suas expectativas?
Olha, eu fui o último dos candidatos ao Senado a ter o nome colocado, né? Então eu estou aí há cerca de cem dias caminhando pela Bahia, conversando com os baianos, ouvindo as demandas, apresentando o nosso trabalho, apresentando o nosso projeto e eu estou muito feliz.
Estou muito animado nessa caminhada com o carinho que tenho recebido do povo do nosso estado, com a aceitação que as pessoas têm pela nossa candidatura ao lado de ACM Neto (UB). Ele como candidato a governador, eu como candidato a senador. Tem sido muito gratificante poder receber essas respostas do povo e dos quatro cantos do estado da Bahia. Então, eu estou muito feliz e muito animado nessa caminhada.
O que você tem ouvido dos baianos em relação às demandas, as principais queixas e de que maneira você pretende pautar esses debates?
Primeiro é o sentimento muito forte de mudança que está presente nas pessoas. O reconhecimento também do trabalho que foi feito em Salvador por ACM Neto, que esse trabalho seja levado pra os outros municípios do estado da Bahia, e estou ao lado dele para poder ajudá-lo a resolver os problemas do nosso estado, né?
A gente tem um problema grave na educação, um problema grave na fila da regulação, onde as pessoas têm sofrido para conseguir um internamento hospitalar. A gente tem aí também o problema do maior número de desempregados, que a Bahia tem hoje, como também o problema da violência, com o maior número de homicídios.
Então essas são as maiores demandas que a gente tem ouvido nessa caminhada e eu vou trabalhar muito para ajudar a solucionar esses problemas, para estar no Senado representando o povo da Bahia, para que a gente possa conter e diminuir esses números, que são ruins como os números da violência.
Vou estar no Senado ajudando o nosso governador, valorizando a educação, buscando recursos, trabalhando, fazendo com que os professores se sintam valorizados para que a gente possa tirar o nosso estado dessa última colocação nos índices de educação no nível médio de todo o Brasil. Então eu vou trabalhar muito, vou ser um verdadeiro parceiro e vou ser o senador que vai estar brigando e defendendo os interesses da Bahia no Senado Federal.
Você está em seu segundo mandato na Câmara. Antes, você esteve na Assembleia Legislativa, de 2011 a 2014. No momento em que foi o relator do orçamento na Câmara, você se queixou da falta de diálogo com o então presidente Michel Temer (MDB). Qual a importância, no seu ponto de vista, de um parlamentar ter uma boa relação com a Presidência da República e de que maneira você pretende ter esse laço com quem quer que seja o presidente, caso você seja eleito senador?
O diálogo sempre foi a minha marca. Eu sou um cara que nasci na democracia, sou forjado pela democracia, defendo a nossa constituição e sempre faço política dialogando com as pessoas. Foi assim que eu exerci o meu mandato de deputado estadual e é assim que eu venho exercendo os dois mandatos como deputado federal, e que tenho tido reconhecimento da população e do próprio Congresso.
Fui colocado, durante os anos em que estive em Brasília, sempre na lista dos parlamentares mais influentes do Congresso Nacional pelo Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), ocupei espaços importantes dentro da Câmara dos Deputados, como você mesmo falou, fui relator do orçamento da União, fui líder da minha bancada na Câmara dos Deputados, fui relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias, fui presidente de comissão, ocupei diversos espaços dentro da Câmara dos Deputados sempre dialogando, sempre conversando, sempre construindo pontes.
Quando eu fui relator do Orçamento eu realmente reclamei, no começo, da falta de diálogo com o governo. O governo mandou a peça orçamentária e depois não a discutiu com o parlamento. Mas até depois da minha crítica, esse diálogo começou a acontecer e a gente conseguiu fazer e terminar um bom trabalho tanto que, até hoje, é um dos orçamentos que teve o maior índice de execução em toda a história do país.
Então, o diálogo sempre foi a minha marca. E o diálogo será a minha marca no Senado construindo pontes, quem quer que seja o presidente da República escolhido pelos brasileiros em outubro desse ano, para fazer com que o estado se sinta representado. A Bahia tem a representatividade e serei um parceiro importante do Governo do Estado no Senado Federal.
Você concorda que essas eleições, não só as parlamentares, mas também no cargos executivos, estão polarizadas?
Olha, é uma eleição realmente bem acirrada e polarizada na questão do discurso, mas eu acho que isso não é salutar, eu acho que a gente precisa ao invés de ficar fomentando diferenças e indiferenças, eu acho que essa campanha ela tinha que ser baseada e tem que ser baseada e tem que ser pautada no diálogo, nas propostas, no que se pode fazer pela Bahia e pelo Brasil ao longo desses próximos quatro anos. É isso que a gente tem feito aqui na Bahia. Uma campanha propositiva, uma campanha feita em cima de propostas e do que os baianos podem esperar dos seus representantes nos próximos anos.
Aqui na Bahia, muitas chapas que disputam o governo do Estado e o Senado têm candidatos que se posicionam sobre a disputa presidencial. ACM Neto e você estão menos explícitos no posicionamento entre Lula e Bolsonaro. Como você se enxerga nessa polarização? Você acha que há riscos em não mostrar esse posicionamento de maneira tão explícita?
Eu acho que os baianos têm o direito de escolher o presidente da República que quiserem. Então não sou eu que vai influenciar as pessoas, os cidadãos baianos nessa questão. O que eu tenho afirmado e que a ACM tem afirmado é que quem quer que seja o presidente escolhido pelos brasileiros, nós vamos construir as pontes necessárias para que a Bahia tenha diálogo, para que a Bahia consiga trazer obras e para que a Bahia se sinta representada.
Então, o meu papel no Senado será exatamente esse, de construir as pontes com quem quer que seja o presidente da República escolhido pelos brasileiros em outubro deste ano. Quem quer que seja ele, eu vou trabalhar muito para fazer com que as coisas aconteçam aqui no estado da Bahia, que os recursos venham, que o estado seja um estado que participe da divisão do bolo dos recursos da União. Então, eu vou trabalhar, com quem quer que seja o presidente da República escolhido, para representar a Bahia no Senado e defender os interesses do povo baiano
Com relação ao orçamento, muito se fala sobre problemas que afetam a arrecadação do Estado, a exemplo do teto do ICMS sancionado por Bolsonaro, que foi alvo de críticas de Rui Costa e de outros governadores. De que maneira você enxerga que será possível viabilizar projetos nesse momento? É preciso na sua opinião rever a questão do teto de gastos? Como você vê a questão dos recursos depois de uma pandemia e de uma crise econômica?
A arrecadação do país tem aumentado ao longo dos últimos anos. O que a gente precisa fazer é uma melhor divisão desse bolo orçamentário, uma melhor divisão da execução desse orçamento. É óbvio que, nesses últimos anos, teve que se gastar um número muito grande de recursos para se combater a pandemia, que é realmente necessário. A questão dos auxílios, as pessoas perderam os seus empregos, o país precisou incentivar e fazer um investimento muito grande na área de saúde para que se pudesse dar conta da pandemia.
Agora nessa era pós-pandemia, a gente vai precisar fazer uma verdadeira revolução no nosso país, seja através da geração de empregos e da geração de renda das pessoas para que esse bolo orçamentário possa ser dividido de uma outra forma, para que se volte a ter recursos para se fazer investimento nas grandes obras, para que a gente melhore a condição do nosso país.
Então, vai ser um trabalho bastante árduo nesses próximos anos para fazer uma remodelação desse orçamento para que o cidadão sinta verdadeiramente, na ponta, a presença do governo, a mão do governo lhe ajudando a sair da crise.
O prazo para o Auxílio Brasil, que tem o valor de R$ 600, é até o final do ano. Qual seu posicionamento sobre isso? É possível continuar com o Auxílio Brasil? Quais soluções para a situação de quem hoje precisa de auxílio, para além dos auxílios?
É importante que o auxílio continue enquanto se fizer necessário que ele seja recebido, né? O melhor programa social que pode existir é a geração de emprego, que consequentemente gera renda. Mas enquanto o país não tiver essa condição de gerar emprego para que essas pessoas se sintam abraçadas, o auxílio se faz necessário. Tenho certeza que ele vai continuar com quem quer que seja o presidente da República escolhido pelos brasileiros nas eleições de outubro.
Mas precisa se fazer, voltando para a resposta anterior, uma remodelação orçamentária para que a gente consiga ter uma melhor condição. Mas os recursos para que o auxílio continue neste próximo ano, enquanto se fizer necessário que ele seja recebido, que os brasileiros tenham, principalmente aquele cidadão mais pobre que sofre com essa condição, para que ele possa receber os R$ 600 ou até mais, porque até os R$ 600 com a inflação que a gente tem hoje é pouco.
Atualmente você tem uma desvantagem para o candidato Otto Alencar. O que a sua campanha tem em mente para reverter esse quadro?
Olha, eu estou trabalhando muito. Estou me dedicando, trabalhando cerca de 18, 20 horas por dia, conversado com as pessoas, visitando o interior, me fazendo presente já em mais de duzentos municípios do estado da Bahia ao longo dessa pré-campanha e no início dessa campanha, então eu tenho me dedicado muito. E como eu falei no começo, a minha candidatura foi a última a ser lançada no Senado, então eu ainda estou me apresentando, eu ainda estou me levando, mas eu acredito muito na nossa vitória, acredito muito que a gente vai ter uma virada muito grande.
A presença de um senador ao lado de ACM Neto, ACM Neto tem falado da importância que é ter um senador parceiro, de ter alguém que possa lhe ajudar a construir as pontes com o Governo Federal. Então, o que eu tenho recebido e o que eu tenho sentido das pessoas é que esse projeto realmente é necessário e acredito muito que a gente vai conquistar uma grande vitória no dia dois de outubro.
Como você enxergou o rompimento do PP de maneira geral e do seu pai com a base de Rui Costa (PT)? Foi um momento muito marcante na política baiana e levou vocês do PP da Bahia para o grupo de ACM Neto. Você tem um sentimento de gratidão ou de mágoa pelos antigos aliados? Como foi para você aquele momento?
Olha, eu virei a página. Isso pra mim já é página virada. Eu sou um cara que respeita a todos, não sou um cara de ficar fazendo críticas por críticas ou de ficar expondo mágoas ou feridas de coisas que aconteceram no passado.
Isso pra mim é página virada e eu respeito. A atenção daqui para frente será feita da forma como se exige a educação, a educação que eu recebi dentro da minha casa. Não sou um cara de ficar remoendo feridas do passado não.
O PP é um partido próximo de Bolsonaro. O presidente do PP, Ciro Nogueira, é uma pessoa próxima a Bolsonaro. Como é a questão da liberdade partidária e de que maneira você se articula no cenário nacional? É possível estar dentro de um partido que tem um vínculo forte com o presidente da República e ainda assim não mostrar esse vínculo com o Governo Federal de maneira tão explícita?
O PP sempre foi um partido e é um partido que dá liberdade para seu estado tomar as decisões que melhor lhe convir. Há quatro anos, nosso partido [na Bahia] apoiou publicamente Fernando Haddad, inclusive tendo a candidata a vice-presidente [na chapa] do Geraldo Alckmin.
A gente sempre teve a liberdade para tomar os caminhos e as escolhas que eram do interesse dos estados. Aqui a gente tem o diretório consolidado. A Bahia tem a sua posição e a decisão foi liberar os seus filiados, os seus candidatos no estado a tomarem a posição que desejarem, a posição que quiserem na eleição presidencial.
Então isso está mantido, isso é mantido e essa foi a posição que a gente tomou, de ter autonomia, de não ter nenhum tipo de interferência no voto do eleitor na questão da eleição presidencial esse ano e é assim que a gente vai continuar até o dia dois de outubro.
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