OPINIÃO
A PEC da bandidagem
Confira o editorial do jornal A TARDE desta quinta-feira, 18

Por Redação

Uma boa investigação começa necessariamente por uma pergunta: a quem interessa? No caso da chamada “PEC da blindagem”, os congressistas assinaram confissão coletiva de inclinação a burlar a lei.
Deputados e senadores recuperam a aura de falsa nobreza de outrora, pois pretendem tornar-se intocáveis, podendo livrar-se de detenção, daí a figura de ironia na denominação da manobra desprovida de moralidade.
O espantoso exemplo, no entanto, não se serve a criatividade ou bom humor; mais apropriado seria “PEC da bandidagem”, tal o descalabro de protegerem-se os proponentes de erros por eles próprios cometidos.
Tal qual a antiga lenda de Giges, ao encontrar um anel capaz de o tornar invisível, a tinhosa “PEC” tem o condão de viabilizar impunidade, como acontecera com o bom pastor de ovelhas, transformado em assassino.
A maquinação abrange amplo espectro político-partidário, permitindo-se processos contra parlamentares, apenas e tão-somente, se autorizados pela Câmara e pelo Senado. Como agravante, a cidadania não ficaria sabendo o posicionamento do congressista, pois a votação é secreta; por acréscimo, os presidentes de partidos teriam foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal.
Corroborando a hipótese de o cotidiano consistir em sucessão de absurdos, mesmo em crimes inafiançáveis, apanhado o suspeito em flagrante, o plenário do Legislativo poderia decidir por revogar a prisão. A nova investida da canalha – coletivo de canalhas – sugere qualificação do Congresso, não só pela instrução do eleitorado, também por atividade pedagógica anterior à posse para ensinar aos eleitos sobre o trabalho – sério – de legislar.
A cada projeto desvairado, o “espírito de corpo” toma feições monstruosas de “gangue” gigante, revelando despreparo de quem aboleta-se nas rechonchudas poltronas.
Uma das vozes contrárias ao enredo adaptável a filme de terror ou de vilões super-poderosos é a do senador Otto Alencar, mas só o desgaste de a PEC ter sido aprovada na Câmara implica suficiente indignação.
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