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ADEUS AO PRÍNCIPE DAS TREVAS

Ozzy se foi – mas seu grito infernal ainda ecoa por gerações

O heavy metal perdeu a sua voz mais insana e brilhante

Por Chico Castro Jr.

23/07/2025 - 11:00 h
Ozzy Osbourne morre aos 76 anos
Ozzy Osbourne morre aos 76 anos -

Tudo em Ozzy Osbourne foi espantoso, absurdo, gigantesco. Da sua voz, que parecia saída de um lamento dos poços infernais, passando pela sua infância entre os destroços de sua Birmingham natal no pós-guerra, a longeva carreira, até a despedida monumental em um show no estádio do time local Aston Villa, meros 18 dias atrás – tudo em Ozzy Osbourne foi superlativo, fascinante, sem comparação.

Até porque são muito poucos os artistas de rock que –, ao lado dos membros de sua banda original, o Black Sabbath –, fundaram, praticamente do zero, todo um gênero musical conhecido e amado no mundo inteiro: o heavy metal.

Gênero este que, saído dos sulcos do álbum Black Sabbath (1970), gerou uma estética tão potente que, qual uma bola de neve, agigantou-se e se imiscuiu em praticamente todos os aspectos da cultura pop, transcendendo a música e se traduzindo em artes visuais, cinema, quadrinhos, games, moda e claro, a própria música, que segue mais viva do que o próprio rock que lhe trouxe à luz.

Sim, porque antes de Ozzy, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward formarem uma banda em 1968, não existia heavy metal. Ozzy, como ele mesmo declarou inúmeras vezes, era beatlemaníaco.

Nascido John Michael Osbourne, em 3 de dezembro de 1948, em Aston – distrito da deprimente cidade industrial de Birmingham –, ou melhor, nas ruínas que sobraram após os bombardeios da 2ª Guerra Mundial, sua atividade preferida na infância era fuçar os escombros das casas destruídas, em busca de cacarecos que servissem de brinquedo.

“Eu era do tipo de garoto que sempre queria se divertir e não havia muito a fazer em Aston. Só o céu cinzento, pubs nas esquinas e pessoas que pareciam doentes de tanto trabalhar como animais na linha de montagem“, lembrou ele, na autobiografia Eu sou Ozzy (Benvirá, 2010).

Conheci a voz de Ozzy no início de 1983, eu ainda garoto passando na frente de um boteco em Praia do Forte, quando ainda só se chegava lá de balsa. Era o Black Sabbath, e aquela voz me hipnotizou e estragou minhas férias no sentido positivo. Eu só queria voltar pra Salvador e descobrir mais coisas sobre aquele som, aquele cara. Mal sabia eu que Ozzy seria o mais importante nome, personagem e voz da minha história com a música e o heavy metal. Ele não tinha a melhor técnica vocal, não tinha o timbre mais bonito, mas ele era único, com voz única e personalidade única. E isso virou referência para todos que se aventuraram em fazer som pesado. E não foi diferente para mim. Sua voz, seus trejeitos, seu humor ácido sempre foram fundamentais no meu imaginário. Ozzy foi um dos poucos que virou lenda ainda vivo
Leonardo Leão - compositor e vocalista da banda Lúgubra

Ozzy largou a escola aos 15 anos e foi trabalhar. Teve inúmeros subempregos, nos quais não durava muito. Tornou-se ladrão de rua, realizando pequenos furtos. Logo foi preso. Seu pai se recusou a pagar a fiança e Ozzy ‘curtiu’ três meses em uma cela. O período na penitenciária de Winson Green, “o buraco mais violento, fedido e degradado que já tinha visto“, foi um baque para Ozzy, então com 18 anos. Foi salvo pela beatlemania, tornando-se um fanático por rock ‘n‘ roll e blues de raiz. Decidiu que seria cantor.

Pouco tempo depois, formou o Black Sabbath com os colegas dos tempos de escola Tony, Geezer e Bill. Após perder a ponta de dois dedos em um acidente na fábrica, Tony afinava sua guitarra em tons graves, sinistros.

Junte-se aí a antipatia que Ozzy sentia pelos hippies, a paixão pelos filmes de terror da produtora inglesa Hammer (de onde saiu o próprio nome da banda), a pegada brutal da cozinha baixo e bateria de Geezer e Bill, e logo o quarteto iria confeccionar o som que iria mudar o mundo.

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Se você quiser saber o que é, na essência, heavy metal em sua forma mais original, pura e legítima, basta ouvir qualquer um dos seis primeiros álbuns do Black Sabbath, lançados entre 1970 e 1975: Black Sabbath (1970), Paranoid (1970), Master of Reality (1971), Vol. 4 (1972), Sabbath Bloody Sabbath (1973) e Sabotage (1975).

Tudo o que veio depois – incluindo aí os álbuns do próprio Sabbath com seus diversos vocalistas seguintes e as bandas do bêabá do metal como Judas Priest, Iron Maiden, Metallica, Slayer etc – decorre destes seis álbuns.

É curioso notar que, apesar de toda a loucura, cara de mau e clima sombrio do som, muitas das letras de Ozzy sempre foram profundamente “positivas”, com mensagens anti-guerra (War Pigs), crítica social (Children of The Grave, Iron Man), alerta ao uso de drogas pesadas (Snowblind) e até uma confessional, super delicada e sensível (Changes).

Ozzy foi o meu primeiro, digamos, "ídolo individual" no Metal. Antes dele, Peter Frampton já havia me conquistado, ainda na minha infância, quando eu estava descobrindo o universo do Rock'n Roll, mas quis o destino que eu me tornasse um vocalista como o "príncipe das trevas", obviamente sem a mesma genialidade de nosso 'madman', mas tive sorte de ter sido muito bem guiado através da gênese do Heavy Metal criado por ele, posteriormente tendo outros guias importantes dentro das vertentes mais extremas que segui com o Headhunter D.C.. Sempre fui do time de Ozzy nas calorosas rodas de discussões de mesas de boteco sobre quem foi o melhor vocalista do Black Sabbath. Ozzy é a raiz de todo mal, a verdadeira essência do Sabbath, com toda a visceralidade primitivamente orgânica que fazem discos como "Black Sabbath", "Paranoid", "Master of Reality" (pra mim, o melhor!) e "Volume 4" o que eles são, logicamente com a ajuda de seus 3 eternos companheiros Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward. Apesar de já estarmos meio que preparados para uma notícia como essa devido ao estado de saúde dele, algo assim sempre nos choca quando se trata de algum artista que reverenciamos já há muitos anos, em meu caso desde 82/83. É realmente como se perdêssemos alguém da família, como um tio ou, no caso dos mais novos, um avô. Álbuns como "Blizzard of Ozz", "Diary of a Madman" e "Bark at the Moon", sem esquecer do melhor disco ao vivo da história em minha opinião, "Speak of the Devil', continuarão saindo de meus alto-falantes até que seja a minha vez de partir. Tenho orgulho e sou muito honrado de tê-lo assistido 'in loco' pela primeira e última vez na turnê "The End" na Praça da Apoteose no Rio de Janeiro em 2016, sendo aquela a primeira despedida do Black Sabbath com a formação original - com exceção do Bill Ward. Até a própria morte o respeitou e o deixou se despedir dos fãs em seu último show em Birmingham há duas semanas antes de levá-lo de vez. Deixa milhares de fãs órfãos em todo o mundo, mas também um legado e uma história monstruosos a serem contados por gerações e gerações à frente. Rest in power Ozzy, flying high again"...
Sérgio "Baloff" Borges - vocalista da banda Headhunter D.C

Carreira solo

Imagem ilustrativa da imagem Ozzy se foi – mas seu grito infernal ainda ecoa por gerações
| Foto: AFP

Acontece, que, na época, Ozzy só andava muito, mas muito, muito, muito louco, mesmo. Tão louco que, em 1978, seus companheiros do Sabbath o demitiram da banda. “Me mandar embora por estar drogado foi uma merda hipócrita. Estávamos todos loucos. Se você está drogado e eu também, e você me manda embora porque eu estou drogado, que merda é essa? Por que eu estou ligeiramente mais drogado do que você?“, ironizou Ozzy no livro.

A mesa virou quando Ozzy recrutou um time de músicos absurdamente talentosos e saiu em carreira solo, fazendo ainda mais sucesso do que o Black Sabbath ao longo dos anos 1980.

A loucura, porém, não parou. Ozzy, uma esponja em forma de gente, também se drogava com o que encontrasse pela frente. A loucura cobrou seu preço quando o jovem guitarrista revelação Randy Rhoads, que havia se tornado seu melhor amigo, morreu em um ridículo acidente com um avião bimotor, no qual subiu bêbado, para impressionar uma groupie.

Apesar de tudo, Ozzy ainda conseguiu lançar grandes álbuns solo, como os dois primeiros, com Rhoads ainda vivo (Blizzard of Ozz, de 1980, e Diary of a Madman de 81), Bark at The Moon (1983), No More Tears (1991) e Ozzmosis (1995).

Foi também nos anos 1980 que ele protagonizou dois episódios bizarros que o tornariam ainda mais famoso – ainda que não pelas razões certas. Durante um show, alguém da plateia atirou um morcego no palco. Ozzy, acreditando se tratar de um brinquedo, mordeu a cabeça do bicho. Tomou várias vacinas anti-rábicas.

O outro episódio foi similar: durante uma reunião com executivos na gravadora CBS, Ozzy resolveu soltar pombos na sala para impressionar os patrões. Doidaço, fora de controle, Ozzy agarrou um dos pombos e arrancou sua cabeça com os dentes, para horror de geral.

Também teve aquele episódio em que ele cheirou uma fileira de formigas no chão próximo à piscina de um hotel em Los Angeles, após virar uma noite com os rapazes do Mötley Crüe. Enfim, Ozzy tem tantos causos que é melhor encerrar esse tópico por aqui.

Os primeiros seis discos do Black Sabbath tiveram uma importância sem igual na minha formação musical. algum deles sem sombra de dúvida seria meu disco da "ilha deserta". Ozzy encarnou como poucos o estereótipo clássico do "rock star". Talento e carisma gigantescos aliados a uma natureza selvagem, inconsequente e imprevisível. Seu estilo de vida tresloucado, que cobrou seu preço no final, nos deu a personalidade mais divertida e fascinante no grande circo do rock 'n roll
Martin Mendonça - guitarrista de Pitty

The Osbournes

Imagem ilustrativa da imagem Ozzy se foi – mas seu grito infernal ainda ecoa por gerações
| Foto: AFP

Casado com sua empresária, Sharon Osbourne, desde 1982, Ozzy, agora ao lado de sua família, viveu um novo pico de popularidade graças ao hilário reality show The Osbournes, transmitido pela MTV entre 2002 e 2005.

Ao lado de Sharon e dos filhos Kelly e Jack, então adolescentes, Ozzy aparecia como o paizão disfuncional, ligeiramente trêmulo e gago (sequelas...), mas sempre muito generoso e gente fina.

Ozzy ainda participou de algumas reuniões com o Black Sabbath em 1998 e 2013, esta última rendendo o último álbum de inéditas do quarteto, 13.

Nos últimos anos, sua saúde foi decaindo seriamente – embora o próprio fato de ainda estar vivo fosse um milagre. Tinha Parkinson e sua coluna já estava comprometida.

Ozzy foi a primeira voz de heavy metal que ouvi numa fita cassete, em 1986. Era a gravação original de "Iron Man", do disco "Paranoid". Naquela gravação, Ozzy me surgia com uma voz com efeito robótico que não se parecia com nada que eu tivesse escutado antes. E nem depois. Eu era uma criança — e foi paixão à primeira audição. Essa paixão virou amor quando comecei a explorar seus discos, tanto com o Black Sabbath quanto na carreira solo. Sempre genial. Sempre diferente. E com o tempo, esse amor se transformou em reverência. Quando conheci suas histórias malucas, seu jeito nada convencional de lidar com a fama e com os momentos difíceis, percebi que Ozzy não era apenas um ídolo — ele era único. O verdadeiro Príncipe das Trevas. O verdadeiro pai do heavy metal. E ninguém jamais será capaz de ocupar esse trono, agora vazio
Vladimir Senna - aka Lord Vlad, da banda Malefactor

Ozzy morreu ontem, aos 76 anos, de causas ainda não reveladas. Meros 18 dias depois de lotar um estádio de fãs e astros de várias gerações do rock para o show / evento Back to The Begining, transmitido ao vivo para um planeta inteiro com lágrimas nos olhos.

"É com mais tristeza que palavras podem expressar que informamos que nosso querido Ozzy Osbourne faleceu esta manhã", disse o comunicado da família. Osbourne "estava com sua família e cercado de amor. Pedimos a todos que respeitem a privacidade de nossa família neste momento", acrescentou a nota.

Descanse em paz, Prince of Fuckin’ Darkness.

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Black Sabbath Ozzy Osbourne

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