DIA DA SOBRECARGA
Terra entra em déficit ecológico mais cedo e esgota cota anual
Dia da Sobrecarga é determinado pela divisão da biocapacidade global
Por Redação

No calendário da natureza, o relógio apita com urgência. O dia 24 de julho marca um ponto de de alerta: a humanidade esgotou todos os recursos naturais que o planeta seria capaz de regenerar em um ano inteiro. A partir de agora, vivemos com o que não temos, a Terra entra em déficit ecológico.
Chamado de Dia da Sobrecarga da Terra, o marco não é novo, mas sua antecipação constante revela um mundo que consome mais do que a natureza pode oferecer. Em 2024, a marca foi atingida de forma mais precoce do que nunca. Segundo a organização Global Ecological Footprint, estamos explorando o planeta 1,8 vez mais rápido do que ele consegue se recompor.
"O déficit ecológico é o fato de a gente estar destruindo a natureza mais do que ela tem capacidade de recuperação, ou seja, o que nós estamos desequilibrando do planeta, o planeta não tem tempo nem capacidade de recuperar", explica o biólogo Francisco Milanez, doutor em Educação em Ciências.
Um desequilíbrio global e desigual
O esgotamento da Terra é coletivo, mas não igualitário. A conta ambiental pesa mais sobre alguns do que sobre outros. Países ricos, altamente industrializados, entram em sobrecarga entre fevereiro e abril e seguem funcionando à base da exploração dos recursos naturais de territórios menos desenvolvidos.
"Em geral, no Hemisfério Norte, onde se concentram os países chamados desenvolvidos, a demanda de energia e matéria é muitas vezes maior do que no chamado Sul Global", detalha Paulo Brack, professor do Instituto de Biociências da UFRGS.
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O Uruguai é uma exceção honrosa. Segundo o estudo da Global Footprint Network, é um dos poucos países cuja sobrecarga só acontece em dezembro. Já o Brasil, apesar de preservar mais e consumir menos energia per capita, vê-se prejudicado pelo sistema.
"Como o Brasil, nós consumimos muito menos energia por pessoa e, ao mesmo tempo, preservamos muito mais, então, é um desequilíbrio muito injusto. Na verdade, os (países) ricos teriam que corrigir a sua forma de viver ou, no mínimo, nos indenizar enormemente, investir muito em preservação aqui", afirma Milanez.
A conta que não fecha
Calculado anualmente pela organização internacional Global Footprint Network (GFN), o Dia da Sobrecarga é determinado pela divisão da biocapacidade global (a capacidade da Terra de produzir e absorver recursos e resíduos) pela pegada ecológica da humanidade (o consumo total de recursos naturais e a emissão de CO2).
A tendência de antecipação é alarmante. Em 2000, o dia caiu entre 1º e 5 de outubro. Em 2010, já era 31 de agosto. Em 2023, chegou em 2 de agosto. Em 2024, mais cedo ainda: 1º de agosto. A cada ano, a margem encolhe, e o planeta sangra mais cedo.
Mesmo quando há pequenos atrasos no calendário da sobrecarga, como ocorreu entre 2022 e 2023, os avanços são tímidos demais para enfrentar a escala da degradação ambiental, do colapso climático, da perda de biodiversidade.
Quais as saídas?
Os sinais estão por toda parte: concentração de gases de efeito estufa, liberação de metano, derretimento de geleiras, acúmulo de plásticos no solo e nos oceanos, metais pesados intoxicando a cadeia alimentar. Estamos empurrando os limites planetários.
A Global Ecological Footprint propõe cinco frentes de atuação para frear o colapso: planeta, cidades, energia, comida e população.
Na área do planeta, as estratégias envolvem conservação clássica, restauração ecológica, pesca sustentável e agricultura regenerativa. Nas cidades, o foco está na redução do impacto ambiental per capita e na promoção de sistemas de transporte acessíveis e sustentáveis.
No campo da energia, o desafio é claro: eliminar gradualmente os combustíveis fósseis, que respondem por cerca de 60% da pegada ecológica humana.
A comida, que consome metade da biocapacidade do planeta, também exige mudança urgente. Todos os anos, cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçadas, enquanto a produção de carne segue como uma das atividades mais impactantes. A meta é reduzir ambos em 50%.
Por fim, a organização toca em um tema delicado: população. Estima-se que entre 7,3 e 15,6 bilhões de pessoas habitarão o planeta até o fim do século. À medida que crescemos em número, cresce também a pressão sobre os ecossistemas. A proposta aqui passa pelo investimento em famílias menores, uma abordagem que exige ética e cuidado.
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