EFEITO CASCATA
Tarifaço dos EUA pode gerar perdas bilionárias e desemprego na Bahia
Os Estados Unidos é o segundo maior parceiro comercial da Bahia; medida terá efeito cascata na economia do Estado

Por Carla Melo

Se antes de ser aplicada, as tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras aos Estados Unidos (EUA), já mexiam com o mercado doméstico, agora, oficialmente em vigor, preocupam ainda mais quem está não só na linha de frente da balança comercial baiana, mas também quem fica nos bastidores.
Os Estados Unidos é um dos maiores parceiros comerciais da Bahia na importação de produtos como petróleo, ferro, celulose, grãos e etc, e essa nova medida pode ter impactos irreversíveis na economia baiana.
Além de perdas desses produtos, que já estavam prontos para serem exportados ao país norte americano, o estado baiano deve seguir um efeito cascata que deve começar pela perda de produção e consequentemente a uma perda financeira que pode afetar desde os grandes produtores aos pequenos.
Entenda em 5 pontos como a Bahia será afetada:
1. Perda de frutas
A Bahia estava preparada para exportar cerca de 2.500 containers de manga do Vale do São Francisco para os Estados Unidos neste mês. Uma das maiores preocupações dos produtores, que era a perda das frutas, deve se concretizar. Apesar de não estar dentre os produtos tarifados, a manga já entrou em desvalorização
"Já está havendo impacto negativo, porque com as mangas, por exemplo, já está tendo uma perda de preço e algumas demandas, porque é um momento de exportação. Esperamos que as tarifas sejam revistas, mas teremos que construir pontes ao invés de destruir. Temos que ver uma forma para se adequar", explicou o secretário estadual de Agricultura, Pablo Barrozo ao Portal A TARDE.
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O estado se destaca na produção e exportação da fruta para os EUA - cerca de 50% a 60%. Não há tempo para se pensar em outros mercados agora, já que a colheita se inicia em agosto e segue até setembro.
“Não dá para esperar resolver o problema daqui a 60/90 dias, porque já passou o ponto da colheita, e já houve a perda do produto. Então, as coisas precisam ser resolvidas rapidamente. O que mais preocupa é a questão da fruticultura”, disse o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb), Humberto Miranda.
As perdas de exportação para o setor de alimentos com a imposição de taxas dos EUA estão estimadas em quase US$ 71 milhões (quase R$ 400 milhões) - a maior perda projetada em produtos básicos.
2. Queda nas exportações
A Bahia foi responsável por 8,3% da participação das exportações no primeiro semestre de 2025. Considerando uma “relação comercial injusta”, a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI Bahia) publicou uma nota evidenciando os potenciais efeitos controversos e negativos com os setores produtivos do Brasil após o país registrar recordes de exportações para os Estados Unidos.
A imposição das tarifas, de acordo com os economistas e analistas, deixará as exportações baianas menos competitivas no mercado norte-americano, reduzindo o volume exportado, na queda da produção, na geração de emprego e renda.
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Com um total de exportações de U$ 11,9 bilhões em 2024, a queda estimada de U$ 643,5 milhões representa uma redução de 5,4% no volume total de exportações da Bahia. As quedas no volume de exportações desencadeariam uma perda bilionária no PIB baiano.
A partir de uma técnica de multiplicadores de insumo-produto, a qual mede o impacto econômico total (direto, indireto e induzido) de uma mudança na demanda final de um setor sobre a economia como um todo, a SEI estimou que os impactos no PIB e perdas econômicas cheguem de até R$ 1,8 bilhão em toda a economia baiana, correspondendo a aproximadamente 0,38% do PIB baiano.
Depois de revisar quais produtos sofreriam com a imposição das tarifas dos EUA, o presidente do país Donald Trump decidiu taxar os seguintes produtos:
- Laranja;
- Petróleo;
- Metal;
- Café;
- Ferro;
- Soja;
- Celulose
3. Perdas bilionárias
As quedas no volume de exportações desencadeariam uma perda bilionária no PIB baiano. A partir de uma técnica de multiplicadores de insumo-produto, a qual mede o impacto econômico total (direto, indireto e induzido) de uma mudança na demanda final de um setor sobre a economia como um todo, a SEI estimou que os impactos no PIB e perdas econômicas cheguem de até R$ 1,8 bilhão em toda a economia baiana, correspondendo a aproximadamente 0,38% do PIB baiano.
4. Demissão em massa e aumento do desemprego
Será um efeito cascata. Assim que houver perdas de produção com a diminuição das exportações, a Bahia pode chegar até o setor produtivo agrônomo que já teme a demissão em massa. Os mais de três mil fruticultores/exportadores do Vale do São Francisco - aqueles que se preparam para exportar as mangas para o país norte-americano, temem pelos impactos econômicos e sociais, com possibilidade de demissões em massa e perda da produção na lavoura.
Especialista no cenário internacional aponta que o maior impacto com a medida estadunidense seja o aumento do desemprego. “Se a gente perde um parceiro comercial importante, podemos gerar um impacto significativo nessa indústria, gerando desemprego, alocação ineficiente de recursos, uma economia que eventualmente vai crescer menos”, disse a professora de economia da Insper, Juliana Inhasz.
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A taxa de desemprego no Brasil caiu a 5,8% no trimestre encerrado em junho de 2025. É o menor percentual da série histórica iniciada em 2012, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas com o avanço das tarifas, esse cenário pode mudar daqui a uns meses.
5. Dificuldades de ampliar mercados alternativos
O Brasil tem apostado na possibilidade de ampliação do mercado exportador como uma forma de driblar as dificuldades no caminho de faturamento das exportações, principalmente para a Ásia. Essa alternativa, contudo, para a fruticultura, não é possível. A maior preocupação do setor agrônomo baiano é de achar, em um curto prazo, um mercado alternativo para os produtos perecíveis, como a manga.
“Um café naturalmente vai abrir outros mercados porque é uma commoditie que está ocupando mercados super importantes como os asiáticos estão começando a consumir e isso vai gerar uma demanda mundial absurda por café. A nossa celulose também tem mercados super importantes na Ásia e na Europa para ocupar, mas a fruticultura não, até pela emergência de solução, a urgência de se ter um mercado, não dá para se construir um mercado recado tão rapidamente para colocar”, finalizou o presidente.
Outro ponto crítico, ainda segundo o economista Augusto César, é o impacto nos investimentos. A instabilidade econômica provocada pelo cenário internacional tende a afastar investidores, especialmente os estrangeiros, o que limita a geração de empregos e desacelera o crescimento econômico local.
“E quando o dólar sobe, o efeito chega ao bolso do consumidor: encarecimento da cesta básica, combustíveis e outros produtos essenciais. A inflação corrói o poder de compra das famílias e acentua desigualdades”, disse ele.
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