IMPACTOS
Tarifaço de Trump: de que forma a Bahia sofrerá com as taxas de 50%
O estado está na lista dos 10 maiores exportadores dos norte-americanos no primeiro semestre de 2025
Por Carla Melo

“Pão é trigo e trigo é dólar”. Essa frase do político e economista brasileiro Ciro Gomes ecoou por muito tempo e voltou a ganhar destaque diante das preocupações geopolíticas envolvendo a imposição de taxas de 50% sobre as exportações brasileiras.
O Brasil é um dos principais parceiros comerciais o qual se destaca pelas exportações de commodities a países considerados subdesenvolvidos como a China e até mesmo o país norte-americano que implica medidas econômicas reprovadas até mesmo para os seus patriotas. Mas ainda mais prejudicial pode ser a taxação para os exportadores baianos.
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Os principais produtos exportados da Bahia para os EUA pertencem aos setores de papel e celulose (25,3%), químicos e petroquímicos (23,5%), borracha e derivados (11,8%), metalurgia (8,2%), frutas (8,1%), cacau e derivados (7,1%) e petróleo (5%). Juntos, esses segmentos representam cerca de 89% da pauta exportadora estadual. O estremecimento da relação já é sentida por quem está na linha de frente.
“A Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) aponta que a participação dos EUA como destino das exportações baianas cresceu de 7,4% em 2024 para 8,3% no primeiro semestre de 2025. No entanto, esse crescimento pode ser freado nos próximos meses”, informou o economista Augusto César Santiago Teixeira, coordenador do curso de Gestão e Negócios da Ages, o momento exige atenção e estratégias para minimizar os danos à economia local.
Queda na produção, queda de empregos
Considerando uma “relação comercial injusta”, a SEI Bahia publicou uma nota evidenciando os potenciais efeitos controversos e negativos com os setores produtivos do Brasil após o país registrar recordes de exportações para os Estados Unidos. A imposição das tarifas, de acordo com os economistas e analistas, deixará as exportações baianas menos competitivas no mercado norte-americano, reduzindo o volume exportado, na queda da produção, na geração de emprego e renda.
Augusto César prevê ainda que com a volatilidade e alta do dólar encarecem insumos importados, como fertilizantes, maquinário e peças industriais, elevando os custos de produção. “Isso compromete a renda de agricultores e indústrias da Bahia, e afeta até mesmo os pequenos produtores, que mesmo sem exportar diretamente, enfrentam um mercado interno pressionado pelo excesso de oferta e pela queda nos preços”, acrescentou Augusto César.
Outro ponto crítico, ainda segundo o economista, é o impacto nos investimentos. A instabilidade econômica provocada pelo cenário internacional tende a afastar investidores, especialmente os estrangeiros, o que limita a geração de empregos e desacelera o crescimento econômico local.
E quando o dólar sobe, o efeito chega ao bolso do consumidor: encarecimento da cesta básica, combustíveis e outros produtos essenciais. A inflação corrói o poder de compra das famílias e acentua desigualdades
Ações de grandes potências, como o Tarifaço Trump, têm efeitos que ultrapassam fronteiras. “Embora visem proteger suas economias, acabam provocando desequilíbrios globais e, para estados exportadores como a Bahia, o desafio é resistir à tempestade e buscar novos mercados e alternativas econômicas para mitigar os danos”, finalizou.
Especialista no cenário internacional aponta que o maior impacto com a medida estadunidense seja o aumento do desemprego, devido a queda na produção e nas vendas do aço ao grande parceiro comercial.
“Se a gente perde um parceiro comercial importante, podemos gerar um impacto significativo nessa indústria, gerando desemprego, alocação ineficiente de recursos, uma economia que eventualmente vai crescer menos”, disse a professora de economia da Insper, Juliana Inhasz.
Quanto a Bahia vai perder com o tarifaço?
Com um total de exportações de U$ 11,9 bilhões em 2024, a queda estimada de U$ 643,5 milhões representa uma redução de 5,4% no volume total de exportações da Bahia. Uma queda desta magnitude impactaria a cadeia dos setores exportadores atingidos, reduzindo a produção, e tendo como resultado final desse ciclo uma redução no PIB estadual.
A partir de uma técnica de multiplicadores de insumo-produto, a qual mede o impacto econômico total (direto, indireto e induzido) de uma mudança na demanda final de um setor sobre a economia como um todo, a SEI estimou que os impactos no PIB e perdas econômicas cheguem de até R$ 1,8 bilhão em toda a economia baiana, correspondendo a aproximadamente 0,38% do PIB baiano.
Dentre os produtos agro, o suco de laranja tinha tarifa, em 2024, de até 7,85% (NMF); para a carne bovina a tarifa ficava entre 4% e 26%, dependendo do corte; para o açúcar, com alto protecionismo, sujeito a cotas, a tarifa podia chegar a 50%; o etanol tinha tarifa de 2,5%, com acréscimos se ultrapassada a cota.
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Dentre os produtos industriais, para o aço e alumínio a tarifa fica entre 0% e 10%, e máquinas e equipamentos tinham tarifa de 0% a 5%, mas a maioria é isenta. Para os produtos têxteis, a tarifa variava de 5% a 20%, para calçados, de 10% a 46%. Para os setores mineral e de petróleo não havia tarifas
A partir do dia 1º de agosto, as exportações serão taxadas a 50%.
Ampliação de parceiros comerciais
Em contrapartida, o Brasil parece alavancar sua participação para driblar reflexos negativos das tarifas, com estreitamento nas relações com outros potenciais parceiros comerciais como a China. Em 2024, a potência asiática foi a principal importadora da Bahia, com 28,6% da participação do valor gerado na balança comercial do país, enquanto os Estados Unidos representavam apenas 7,5% de todo o total das exportações em 2024, perdendo para Singapura que foi de 9,2%.
A Bahia tem a China como seu principal parceiro comercial desde 2012, mas os Estados Unidos continuam sendo o terceiro maior destino de suas exportações. Em 2024, a China representou 28,2% das vendas externas do estado, enquanto no primeiro semestre de 2025 esse percentual foi de 23,6%. Já os EUA responderam com 7,4% do destino total das exportações baianas em 2024 e com 8,3% no primeiro semestre de 2025.
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