ECONOMIA
Saque-aniversário FGTS despenca 80% após regras do conselho curador
Restrição no FGTS corta acesso ao crédito barato para milhões de baixa renda

Por Isabela Cardoso

As novas regras de crédito aprovadas pelo Conselho Curador do FGTS em outubro causaram um colapso no mercado de antecipação do saque-aniversário. A modalidade, que se tornou vital para a população de baixa renda, registrou uma queda drástica de 80% nas contratações em novembro, o primeiro mês sob as restrições.
A Associação Brasileira de Bancos (ABBC) divulgou uma nota nesta terça-feira revelando que o volume mensal de operações concedidas caiu de cerca de R$ 3 bilhões para apenas R$ 600 milhões. O principal culpado por essa contração? A imposição de um valor mínimo.
O efeito devastador da regra dos R$ 100
Segundo a ABBC, a exigência de um valor mínimo de R$ 100 por parcela anual antecipada é a restrição mais limitante, respondendo sozinha por 90% da queda observada.
Essa mudança, juntamente com outras limitações, como a carência de 90 dias, a restrição a apenas uma operação por CPF e o teto no número de parcelas adiantadas (cinco anos até 2026, e três anos depois), atingiu diretamente o público mais vulnerável.
Vítimas do novo limite: desempregados e negativados
A análise da ABBC reforça que a asfixia do crédito prejudica justamente quem mais precisa. Os dados sobre o perfil dos trabalhadores são alarmantes:
- Dos 134 milhões de pessoas com saldo no FGTS, mais de 85 milhões estão sem emprego e, portanto, sem acesso ao novo Crédito Consignado Privado, defendido pelo governo.
- Entre os 37 milhões de aderentes ao saque-aniversário, 26 milhões já contrataram a antecipação. Desse grupo, 9 milhões estão desempregados e 74% estão negativados.
Para esse público, a antecipação era a única porta de entrada para um crédito com custo relativamente baixo.
Novo consignado não compensa o vazio
A migração para o novo Crédito do Trabalhador (consignado privado), que o governo esperava que substituísse o saque-aniversário, se mostra ineficaz.
Um levantamento com instituições que respondem por 40% das operações de antecipação mostrou que:
- Apenas 25 de cada 100 trabalhadores que usavam a antecipação tiveram propostas aprovadas no novo modelo.
As taxas de juros no novo consignado têm sido superiores ao teto de 1,79% ao mês que era praticado na antecipação do FGTS.
Apelo por flexibilização: o risco de extinção da linha
Com a redução a um quinto do volume anterior, a ABBC projeta um futuro sombrio: mantidas as regras atuais, a modalidade pode cair para cerca de 5% dos níveis anteriores nos próximos meses, levando à sua "extinção prática" como uma das principais linhas de crédito de baixo custo do país.
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Diante do recuo brusco, a associação defende uma reavaliação urgente por parte do Conselho Curador, focando em dois pontos críticos:
- Redução do piso: Diminuir o valor mínimo de R$ 100 para R$ 50.
- Fim da restrição: Retirar a proibição de mais de uma operação por trabalhador.
A ABBC estima que, com estas alterações, a queda nas concessões seria de cerca de 35%, uma redução significativa, mas que não inviabilizaria a linha de crédito para milhões de trabalhadores de baixa renda.
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