OMISSÃO?
Wagner Moura fala sobre falta de artistas no ato contra a PEC: "Não é para todos"
Em Salvador para peça, artista comentou sobre o movimento político atual da classe artística

Por Franciely Gomes e Edvaldo Sales

Wagner Moura voltou a se posicionar politicamente contra a PEC da Blindagem e outros movimentos da direita. Em coletiva de imprensa sobre a sua nova peça teatral “UM JULGAMENTO - depois do Inimigo do Povo”, nesta segunda-feira, 22, o ator comentou sobre a imposição da classe artística em se pronunciar sobre o tema.
No último domingo, 21, ele participou de um ato contra a PEC na orla da Barra, ao lado da cantora Daniela Mercury. A falta de outros artistas baianos na manifestação foi tema de amplo debate nas redes sociais, com internautas criticando um suposto silêncio de grandes nomes da cultura do estado.
“Eu fiquei vendo o vídeo dos caras lá no Rio de Janeiro [durante a manifestação contra a PEC]. Você vê que eles estão velhinhos, né? Mas você vê aqueles caras naquele palco lutando por democracia, pelas coisas que eles acreditam, cantando aquelas músicas que fazem parte da nossa vida. É um negócio tão emocionante, tão bonito. É um exemplo tão grande de cidadania, de artista cidadão”, disse ele.
“Mas, por outro lado, eu, particularmente, tenho resistência à cobrança para que artistas se posicionem e falem. Eu acho que artista é que nem todo mundo. Quem tem que falar é quem quer falar”, afirmou.
O artista baiano ainda destacou que os artistas têm medo de se posicionar pelas represálias que vão sofrer por parte do público, pois a opinião não agradará a todos os grupos, seja ela do movimento político de esquerda, ou do movimento de direita.
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“Quando você fala, você tem que segurar o rojão depois de falar. Então, não é para todo mundo mesmo. Tem gente que se preserva, que não quer, e eu entendo completamente. Eu não acho que essas pessoas aqui vão ser pressionadas a se colocar, se elas não estiverem prontas para isso”, disparou.
Wagner Moura criticou a atitude dos deputados em propor a PEC da Blindagem. “A democracia é o equilíbrio entre poderes, é a base. Um poder dizer: ‘Não, aqui a gente mesmo resolve’ é a coisa mais antidemocrática e é impressionante como essas pessoas perderam a vergonha de falar esse tipo de coisa. É como se o que nós pensássemos não importasse. Portanto, as manifestações de ontem no Brasil todos foram uma resposta muito clara a isso”, completou.
Nordeste na luta pela democracia
Em entrevista exclusiva ao Portal A TARDE, Moura falou sobre a apropriação de símbolos nacionais, como a bandeira, para indicar posicionamentos. Ele lembrou que em seu filme Marighella (2021), sobre a vida do guerrilheiro Carlos Marighella, ele incluiu uma cena em que os atores cantam o hino nacional, explicando a decisão:
"O hino nacional é nosso, é de todo mundo, é do Brasil. Não existe isso dessas pessoas se apropriarem das cores, dos hinos". O ator também fez uma ressalva sobre o uso de certas vestimentas, afirmando: "Uma camisa da CBF - Confederação Brasileira de Futebol - amarela, eu acho que eu nunca mais vou usar na minha vida, porque aí reúne muitos símbolos que eu realmente não tolero”.
Durante o bate-papo, o famoso também comentou sobre a importância dos estados do Nordeste na luta pela democracia, já que foi a região que ajudou o presidente Lula a se reeleger no segundo turno das eleições de 2022.
“Fiquei lembrando dos caras que a polícia rodoviária parou naqueles ônibus para impedir eles de votarem e os caras desceram do ônibus e foram andando votar, aqui no interior da Bahia. Isso para mim é uma compreensão do que seja democracia muito mais profunda e bela do que quando eu vejo esses caras lá no congresso dizendo: ‘Não, nós mesmos vamos julgar aqui o que a gente fez’”, afirmou.
Espetáculo “Um Julgamento” em Salvador
Por fim, o ator falou sobre a estreia de sua nova peça, chamada “UM JULGAMENTO - depois do Inimigo do Povo”, que estará em cartaz de 3 a 12 de outubro, e falou sobre a expectativa da montagem.
“Torço para que de alguma forma esse espetáculo e a presença da gente aqui movimente a cena cultural. Mas a cena cultural, não só na Bahia, como teatral sobre tudo, como em qualquer lugar, ela depende de incentivo público e eu acho que isso não está acontecendo”, disse ele.
Wagner Moura ainda pediu mais incentivo público para a cena artística teatral. “Acho mesmo que o governo de esquerda deveria incentivar muito mais a cultura e sobretudo no caso específico do teatro, o teatro profissional da Bahia. Porque eu me formei e existo como artista porque, justamente, na minha configuração astrológica, calhou de eu viver uma época de abolição do teatro da Bahia”, disparou.
“[...] Eu quero ver esses atores num lugar que eles têm que estar de grandes atores. Então, que bom que o governo também apoia as manifestações culturais do interior da Bahia, que eu acho foda e tem que fazer. Mas sinto que o teatro profissional da Bahia está abandonado e precisa que se olhe para isso”, finalizou.
Vale lembrar que a peça também conta com a dupla baiana Fernanda Paquelet e Marcelo Flores no elenco e os ingressos começam a ser vendidos na próxima quarta-feira, 24, ao meio-dia, com preços populares a partir de R$ 15 (meia-entrada) e R$ 30 (inteira), disponíveis na plataforma Sympla.
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