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LUTO

Morre Deolindo Checcucci, referência do teatro baiano, aos 76 anos

Artista teve trajetória marcada por montagens autorais, atuação como educador e impacto na formação teatral na Bahia

Beatriz Santos

Por Beatriz Santos

04/08/2025 - 12:27 h | Atualizada em 04/08/2025 - 20:28
Deolindo Checcucci faleceu nessa segunda-feira
Deolindo Checcucci faleceu nessa segunda-feira -

O teatro baiano perdeu um de seus nomes mais influentes. O diretor, dramaturgo e professor Deolindo Checcucci, 76, faleceu nessa segunda-feira, 4, segundo informações divulgadas por Gabriel Checcucci em publicação no Instagram.

“Nosso amado, Deolindo Checcucci, deixará saudades. Deo partiu na madrugada desta segunda-feira, 04/08/25. Foi tudo muito inesperado e estamos aguardando mais detalhes sobre seu falecimento", disse.

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"Neste momento, ainda não temos todas as informações do velório. Assim que houver definição sobre data, horário e local, divulgaremos por aqui. Agradecemos todo carinho, atenção e compreensão de todos”, completou Gabriel.

A causa da morte não foi informada até o momento.

Pioneirismo e influência na cena teatral baiana

Deolindo Checcucci iniciou sua trajetória artística em 1968, ao concluir o Curso de Formação do Ator na Escola de Teatro da UFBA, e logo passou a dirigir espetáculos na cidade de Feira de Santana. Ainda naquela década, começou a lecionar na universidade, com foco inicial em Teatro e Expressão Corporal.

Ao longo das décadas seguintes, dirigiu textos de autores como Eugène Ionesco, Maria Clara Machado, Fernando Pessoa, Haydil Linhares e Cleise Mendes, além de firmar-se como autor e encenador de textos próprios.

Seu trabalho é marcado por uma preocupação constante com a contemporaneidade, com produções que discutem o urbano, o social e as tensões entre o indivíduo e o coletivo.

Destacam-se montagens como Bocas do Inferno (1979), inspirado em Gregório de Mattos, Na Selva da Cidade (1996), de Bertolt Brecht, e O Voo da Asa Branca (2000), peça sobre Luiz Gonzaga que alcançou sucesso de público em todo o país.

Educação, crítica e ativismo cultural

Além dos palcos, Deolindo teve forte atuação como professor e gestor acadêmico na Escola de Teatro da UFBA, onde influenciou gerações de estudantes de Direção Teatral. Atuou como chefe de departamento, coordenador de colegiado e diretor da escola entre as décadas de 1980 e 2000.

Dirigiu espetáculos para o público infantojuvenil e foi responsável por introduzir inovações cênicas no teatro soteropolitano, como o uso de estruturas verticais e planos de ação diferenciados, resultado de estudos realizados nos Estados Unidos.

Repercussão

Como não poderia deixar de ser, a perda de Deolindo bateu forte na comunidade teatral de Salvador.

O roteirista e diretor Gil Vicente Tavares lembrou de um episódio que diz muito sobre a personalidade do falecido: “Reza o folclore baiano, uma atriz foi reclamar com ele porque tal pessoa do elenco estava fazendo isso e aquilo em cena, e atrapalhando, roubando a cena, sei lá o quê. Dizem que Deo simplesmente tragou o cigarro, soltou lentamente sua fumaça e falou, bem articulado, daquele jeito bem dele: r-e-a-j-a!”, relata.

“Meus mestres estão indo, parando, e eu fico de cá lutando pelo teatro que aprendi com eles, e vendo muita gente desiludida, desesperançada, desistindo, entregando os pontos. Deo partiu repentinamente, mas de alguma coxia celeste, ele estará sempre a postos para dizer ao teatro baiano: r-e-a-j-a. Ele dedicou a vida a isso. Cabe a nós seguir na luta e na arte”, disse Gil.

Já o ator Jackson Costa recebeu a notícia na estrada, voltando de uma apresentação do grupo Los Catedrásticos em Vitória da Conquista. Com a voz embargada, ele contou que Deolindo foi o primeiro a acolhê-lo na cena, ao chegar em Salvador vindo de Itabuna, sua cidade natal. “Com menos de dois meses em Salvador, Deolindo me convida pra participar de um espetáculo de teatro. E, nesse espetáculo, eu tava em cena com Edilu Mendes, que nasceu ali no teatro e já era um ator conhecido desde sempre; Frida Guttman, uma atriz conhecida do público de Salvador e Arly Arnaud. Então, essa pessoa, essa figura do teatro que já tinha um nome, me acolheu, abriu as portas para um ator jovem do interior”.

“Era um cara muito fino, muito cordial, com um olhar artístico muito apurado, uma estética... Ele era um grande encenador, com uma característica que eu acho que a gente precisa também aprender com Deolindo, que era a humildade. Ele era muito mais um encenador do que um diretor de ator. Com a humildade dele, ele simplesmente acionava o Harildo Deda pra vir resolver, às vezes, questões de direção de ator que ele, até então, não tinha conseguido resolver. E isso era muito bonito, porque, também através desse gesto dele, eu tive a oportunidade de ser dirigido por Harildo Deda. Então, ele era essa pessoa fina, que agregava. Acho que nunca o vi levantar a voz para um ator”, relata Jackson.

Da mesma geração de Jackson, Evelyn Buchegger faz eco ao primeiro, ao falar sobre a cortesia com que Deolindo tratava a todos: “Deolindo foi tão importante para minha carreira, ele que me empregou durante anos, eu sempre estava em suas produções, um ser humano incrível para se trabalhar, nunca o vi levantar a voz para ninguém”, conta.

Opinião que também é a de Frank Menezes: “Deo, o cortês! Ele, além do talento e da visão clara do queria em cena, vai fazer falta principalmente pela gentileza”, conta.

“Fui dirigido por ele apenas uma vez, em A Bela e a Fera, mas aquela forma tão delicada de se relacionar ficou gravada na memória, no afeto, na maestria em saber relacionar-se. E isso tudo embalado no amor ao Teatro. Que sorte a nossa de, nestes tempos, termos convivido com Deolindo Checcucci”, disse Frank.

Colega de Checucci e atual Presidente da Fundação Gregório de Mattos, Fernando Guerreiro também lamentou a perda: “Com muito pesar que eu soube do falecimento de Deolindo, porque ele é um diretor praticamente da minha geração. Eu cresci produzindo ao lado de Deolindo, e ele sempre foi um encenador muito atuante, vibrante, generoso, tranquilo, que fez espetáculos memoráveis, como Boca do Inferno, O Voo da Asa Branca, o espetáculo sobre Raul Seixas (Aventuras do Maluco Beleza), infantis maravilhosos. Então é o que eu sempre digo, vamos preservar a memória e homenagear essa grande figura”.

A própria FGM, por meio de suas redes sociais, também lamentou profundamente a perda de Checcucci. “Diretor, mestre e artista comprometido com a cultura, Deolindo deixa um legado marcante na história das artes cênicas da Bahia”, declarou a instituição.

*Colaborou Eugênio Afonso

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