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Esse super-herói é baiano e autista: conheça “O Inigualável Espectro”
História em quadrinhos mistura ação, inclusão e representatividade ao apresentar Theo, um super-herói autista

Por Chico Castro Jr.

Na origem, todo super-herói de quadrinhos se torna heroico porque foi obrigado a superar alguma grande adversidade. Seja um refugiado de um planeta que explodiu, um órfão para a violência urbana ou alguém que estava no lugar e hora errados – a regra permanece a mesma.
A HQ baiana O Inigualável Espectro (Pé de Pitanga, 50 páginas) segue a regra, mas trazendo um tema bem atual: Theo, o jovem protagonista, é autista.
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Beneficiada pelo edital A Bahia que Escreve, a HQ do criador João Victor Dourado tem sido distribuída gratuitamente nas escolas públicas da Bahia, em animados bate-papos com o autor.
Auxiliado pelos desenhos bonitões de JH Gabriel e pelas cores de Nanda Alves (além da impactante capa de May Santos), Dourado cria uma HQ ligeira e descomplicada em ambientação escolar, na qual seguimos Theo Torres, novo aluno na escola da cidade fictícia de Nova Magdala.
Tímido e fechadão, Theo é autista, o que logo o torna alvo do valentão da sala, Walter, além de possível interesse amoroso de Lilian, a “princesinha” da turma.
O que eles nem imaginam é que Theo é faixa preta em karatê e, devido ao autismo, tem hiperfoco em combate ao crime e determinação inabalável. Daí para envergar um traje ninja high tech e sair pela noite partindo as fuças de marginais, é um pulo.
“Eu sempre amei quadrinhos, sempre li muito quadrinho americano, brasileiro, sempre li muito mangá. E no ano de 2018, dois eventos, por assim dizer, surgiram na minha vida”, conta Dourado.
O primeiro foi o disgnóstico para autismo de seus dois filhos: “Aí comecei a estudar e aprender o máximo que eu podia sobre autismo. E percebi que muitos deles podem se dedicar intensamente, implacavelmente a uma atividade, a um assunto que é o chamado hiperfoco deles, que eles podem chegar ao topo, à excelência naquele assunto, naquela atividade.
Pessoas com memória fotográfica, pessoas com capacidade de falar vários e vários idiomas, hipercalculia (capacidade de realizar cálculos complexos com facilidade), hiperlexia (capacidade acentuada de leitura), coisas que eu nem sabia o que era”.
“Nesse mesmo ano, 2018, morreu um artista que foi muito importante pra mim. O Stan Lee, criador do Homem-Aranha, Hulk, o pai dos heróis da Marvel. Quando ele faleceu, eu pensei, poxa, não tem nenhum super-herói autista. Aí veio na minha cabeça assim, eu vou criar”, relata.
Giro pelas escolas
Criada, desenhada e rodada, a HQ tem sido distribuída gratuitamente. Depois de passar pela Escola Dom Avelar Brandão Vilela (Fazenda Grande do Retiro) e pelo Colégio Pedro Paulo Marques (São Cristóvão), amanhã Dourado e seu Espectro batem um papo com os alunos do Colégio Estadual Rafael Serravalle (Pituba).
Já há eventos previstos em Ondina, Cabula VI, Bonocô e no interior – Amélia Rodrigues, Morro do Chapéu, Cachoeira e Vitória da Conquista.
“A recepção está sendo incrível. Os alunos querem saber sobre o transtorno, como foi criada a arte, como foram desenvolvidos cada personagem. Eles se interessam sobre se vai ter novas edições, o que vai acontecer. Eu fico realmente bastante emocionado de ver como eles reagem”, conta Dourado.
Ele planeja publicar pelo menos mais dois números da HQ e fechar uma história completa do personagem, além de publica-la de forma comercial, para que mais pessoas possam ler e se conscientizar sobre a questão do autismo, que é bem explorado na trama.
“Como lançamos através do edital da Lei Aldir Blanc, vamos cumprir todas as regras do edital, e, em paralelo, correr atrás de recursos para a produção dos volumes 2 e 3. A recepção do público está sendo maravilhosa, a editora Pé de Pitanga está sendo uma mãe em relação a isso e eu estou muito confiante que a gente vai conseguir lançar no próximo ano”, conclui Dourado.
A HQ O Inigualável Espectro foi financiada com recursos do Edital A Bahia que Escreve, Política Nacional Aldir Blanc e tem apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia, por meio da Secretaria de Cultura do Estado via PNAB, direcionada pelo Ministério da Cultura - Governo Federal e apoio da Fundação Pedro Calmon.
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