Do tarifaço a um plano de emancipação para o Brasil
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A recente medida de tarifação imposta ao Brasil por uma potência estrangeira acendeu um alerta que não pode seguir ignorado. Mais do que um impasse econômico ou diplomático, trata-se de um reflexo direto da forma como o país tem se posicionado no cenário global e de como tem negligenciado questões estruturais internas que se arrastam há décadas.
Há não muito tempo, o Brasil ostentava indicadores econômicos superiores aos de diversas nações que hoje figuram entre as potências industriais e tecnológicas do mundo. Perdemos essa vantagem por não investirmos em um projeto nacional de longo prazo. Falhamos, sobretudo, em não consolidar uma cultura baseada em responsabilidade, pertencimento e educação cidadã. O resultado é uma vulnerabilidade que se manifesta em diversas áreas — da economia à soberania política.
A recente taxação atinge setores estratégicos da nossa economia, como frutas, madeira e carne, com impactos diretos sobre empregos, contratos e investimentos. Pequenos e grandes produtores, já pressionados por encargos internos e instabilidades externas, terão que lidar com novos obstáculos logísticos, jurídicos e comerciais. Mas não é essa a nossa maior crise.
Nosso verdadeiro gargalo é cultural. O Brasil precisa romper o ciclo histórico de dependência e buscar sua emancipação. E essa emancipação não virá de alianças circunstanciais nem de discursos polarizados. Ela exige a construção de um plano nacional de transformação industrial, tecnológica e, acima de tudo, cidadã.
Precisamos parar de tratar a política como um jogo de torcidas. O debate público tem sido sequestrado por paixões rasas e disputas improdutivas que obscurecem as verdadeiras prioridades do país. Não é apenas uma questão de governo. É uma questão de nação. E nação se constrói com educação crítica, senso de pertencimento e consciência coletiva.
Hoje, quase um terço da população brasileira não compreende plenamente o que lê. Isso compromete o exercício da cidadania e impede que a sociedade cobre, com maturidade, políticas públicas eficientes, éticas e sustentáveis. Não é possível falar em democracia plena sem um povo consciente, informado e participativo.
O Brasil tem riquezas naturais, um mercado interno robusto e criatividade abundante. Mas continua exportando matéria-prima e importando produtos industrializados. Exporta riqueza e importa dependência. Essa lógica não será superada com protecionismo, tampouco com submissão. Será vencida com organização, investimento e inteligência coletiva.
É preciso transformar a indignação em uma cultura de emancipação. Promover um pacto nacional que envolva a iniciativa privada, a academia, os trabalhadores e o Estado, todos em torno de um plano de desenvolvimento de longo prazo, centrado em soberania produtiva, inovação, educação e cidadania.
Não precisamos escolher entre um ou outro lado do mundo. Precisamos escolher o Brasil. E essa escolha começa quando cada um de nós assume a responsabilidade de participar da mudança.