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CINEMA

Depressão e música: este filme expõe o verdadeiro Bruce Springsteen

Filme de Scott Cooper revisita a juventude conturbada de Bruce Springsteen, revelando sua luta contra a depressão

João Paulo Barreto  | Especial para A TARDE

Por João Paulo Barreto | Especial para A TARDE

26/10/2025 - 12:02 h
Bruce Springsteen
Bruce Springsteen -

No texto de 2019 publicado no Caderno 2 de A TARDE sobre Western Stars, mescla de documentário intimista e performance ao vivo de Bruce Springsteen que chegou aos cinemas em dezembro daquele ano, era citada uma introspecção oferecida pelo filme que nos convidava a conhecer parte da sombra que a depressão representou (e ainda representa se houver um descuido) na vida do músico de Nova Jersey.

Intimista e sincero, o doc Western Stars era sobre uma consciência da vida em sua completude. Era sobre uma reflexão acerca de erros cometidos nessa trajetória e sobre a necessidade/capacidade de se perdoar no que tange a tais erros. Mas, sobretudo, aquela obra era sobre envelhecer com uma consciência tranquila e uma serenidade que pudesse lhe conceder paz. Independente dos percalços que aquela sua trajetória lhe trouxe, o filme narrado por Bruce Springsteen oferecia uma reflexão sobre a condição humana em seus tormentos mentais e sobre como sobressair-se disso com poucas cicatrizes. O documentário, em sua essência e distante aqui de qualquer romantismo idealizado e raso, trazia uma análise de uma redenção intima e uma reflexão sobre como chegar a uma fase madura da vida em paz consigo mesmo. E isso era feito de forma desnuda. Com um homem de então 70 anos abraçando a terceira idade e a clareza que a velhice lhe trazia em relação ao anos da aurora da vida e de tormento mental.

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SINCERIDADE E ENTREGA

Springsteen - Salve-me do Desconhecido, ficção que aborda uma dessas conturbadas fases do músico, bem como a criação de uma suas obras mais intimistas e brilhantes, o assombroso disco Nebraska, lançado em 1982, segue um caminho parecido, mas focando em um jovem Bruce que ainda cruzará caminhos ásperos até chegar à serenidade da velhice. Tal percurso se assemelha ao do documentário citado em termos de uma abordagem que desmitifica a figura do artista e o desmistifica ao evidenciar seu próprio reconhecimento de suas fragilidades mentais, inseguranças e sua compreensão e luta, inicialmente solitária, contra a depressão que o afligia.

Na pele de Bruce, o jovem Jeremy Allen White, notório pela série The Bear, encarna os trejeitos do cantor sem necessariamente imitá-lo de maneira caricata, uma armadilha que seria fácil de se cair. Mantendo sua própria voz naturalmente rouca ao reencarnar em conversas o jovem Springsteen com trinta anos de idade, Allen, porém, se transforma no palco, tornando-se o próprio músico de Freehold, Nova Jersey. E é curioso observar o cuidado do ator em parecer mais rouco que o normal nas cenas que acontecem imediatamente após os shows, denotando exatamente o desgaste da voz de Bruce após as horas no palco.

Filme sobre Bruce Springsteen
Filme sobre Bruce Springsteen | Foto: Divulgação

Na criação da presença ao mesmo tempo taciturna e calorosa do artista, Allen capta de maneira brilhante e dolorosa o modo como a depressão parecia corroer Bruce Springsteen por dentro. Ele busca por ajuda em seu entorno, encontra um breve conforto nas conversas com seu produtor e amigo Jon Landau (Jerry Strong, de Sucession), se envolve amorosamente com uma jovem fã (que acaba por sofrer em um relacionamento fadado a terminar), e, neste processo, segue em frente aos trancos na tentativa de transformar em música toda aquela fase, algo que viria a se tornar, justamente, o soturno disco Nebraska.

CULTURA POP EVIDENTE

Diretor e co-roteirista do filme, Scott Cooper não intenta aqui criar uma cinebiografia completa do cantor, mas destrinchar uma fase tenebrosa do mesmo. Cooper, inclusive, já havia abordado, há 16 anos, os percalços da fama e suas feridas a partir do alcoolismo de Bad Blake, personagem que trouxe o Oscar a Jeff Bridges em Coração Louco (2009). Em Salve-me do Desconhecido, ele consegue um resultado melhor por trazer esse vislumbre das trevas que Bruce Springsteen visita em sua depressão solitária e o modo como isso refletiu na criação de um dos seus mais marcantes discos.

Na narrativa, baseada no livro homônimo de Warren Zane, Cooper apresenta a maneira como a criação rígida de Douglas Springsteen (vivido com peso por Stephen Graham) trouxe marcas que refletiram por anos na vida do filho. E o momento em que os dois finalmente deixam para trás esse passado é de uma ternura única e que desenha bem a condição e as amarras da masculinidade daqueles dois personagens.

Enquanto Bruce evoluiu para conseguir expressar em letras musicais sentimentos como aqueles que compartilha com o pai naquele momento, seu velho precisou se tornar um idoso amargurado para finalmente conseguir desabrochar o afeto pelo seu filho. Prova disso está no modo como o ainda jovem Douglas usava as visitas com Bruce ao cinema para sessões de pilares como O Mensageiro do Diabo (1955), filme que, aqui, cria uma eficiente rima temática.

Isso porque é justamente em tais momentos que, de certa maneira, o Springsteen pai se conectava com aquele que viria a se tornar o boss da música popular estadunidense. Através de uma arte como o cinema.

Assim, o diretor Scott Cooper cria uma precisa metáfora do modo como o cinema daquele país e sua cultura pop influenciaria para sempre Bruce e suas criações autorais.

Filme sobre Bruce Springsteen
Filme sobre Bruce Springsteen | Foto: Divulgação

Não por acaso, é a partir de um vislumbre de cenas de Terra de Ninguém (Badlands, 1973), filme de Terrence Malick com Martin Sheen, Sissy Spacek e Warren Oates, que o boss cria um de seus clássicos. E o modo como o longa demonstra esse processo vai no cerne.

SEM VAIDADES

Springsteen - Salve-me do Desconhecido traz para seu público uma revisita de Bruce nas lembranças de sua vida anterior àquele momento de trevas há quase meio século e o modo como tais passagens de sua vida culminaram em seu momento de ruptura emocional. E ao citar Western Stars neste texto, fica a conclusão de que a integridade desse artista e o modo como ele conseguiu confrontar seus demônios foram símbolos da sua busca por paz interior e pela superação daquele momento e de muitos outros.

A impressão que a obra deixa é a de mais um documento biográfico comprovando a sinceridade e honestidade de um artista pleno em sua integridade. Alguém que não esconde os próprios tormentos, preferindo compartilhá-los, distante de qualquer auto-piedade, na busca do evoluir além deles.

“É fácil se perder de si ou nunca encontrar a si mesmo. Quanto mais velho você fica, mais pesado aquela bagagem que você carrega e que não superou fica. É quando você foge. E eu cometi muito desse tipo de fuga ”, afirma Bruce no citado documentário, em sua inconfundível voz rouca, entregando um dos muitos diálogos redentores do filme de 2019.

Em outro momento, um dos pontos que melhor rima com este lançamento de 2025, Bruce fala justamente sobre seu constante embate contra aquele sentimento que o atormenta, referindo-se à luta contra a depressão que quase o destruiu no começo da década de 1980, e que este novo trabalho conseguiu transmitir com brilhantismo. “Passei 35 anos tentando aprender a deixar para trás as partes destrutivas de minha persona. E ainda há dias em que eu preciso lutar conta isso”.

Ainda bem que ele sempre terá um violão e um caderno de notas para o ajudar. E que bom poder admirar alguém com tamanha sinceridade em seu trabalho.

Springsteen: Salve-me do Desconhecido (Springsteen: Deliver Me from Nowhere) / Dir.: Scott Cooper / Com Jeremy Allen White, Odessa Young, Jeremy Strong, Stephen Graham, Johnny Cannizzaro, Gaby Hoffmann, Paul Walter Hauser, Grace Gummer / Salas e horários: cinema.atarde.com.br

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