BRASIL JAMAICA
Baiana, filha de Jimmy Cliff e estrela em Hollywood: a vida de Nabiyah Be
Artista nascida em Salvador concedeu entrevista exclusiva ao A TARDE

Por Jair Mendonça Jr

Dança, poesia, performance e música formam Nabiyah Be, a filha soteropolitana do cantor jamaicano Jimmy Cliff e da psicóloga brasileira Sônia Gomes. Aos 33 anos, a artista, que estreou em Hollywood no filme 'Pantera Negra' e lançou recentemente o primeiro album, concedeu uma entrevista exclusiva ao A TARDE.
Minha adolescência foi muito baiana. Eu era muito fã de 'É o Tchan'. Vivi muito a cultura baiana
Nabiyah Be contou o bairro que nasceu em Salvador e como foi a sua infância, a relação do pai com a Bahia, falou sobre cenário político atual, projetos de carreira e ainda deu uma palhinha de uma música autoral.

A baiana, que atualmente mora no Rio de Janeiro, ainda detalhou como Margareth Menezes apresentou seus pais durante um ritual religioso na Bahia.
Carreira precoce
Influenciada pela riqueza cultural do Caribe e do Brasil, Nabiyah Be passou a acompanhar o pai em turnê já aos 7 anos, ancorando também raízes na cidade de Salvador, onde nasceu.
Segundo Nabiyah Be, sua carreira artística se desenvolveu, predominantemente, nos palcos teatrais, onde se destacou em espetáculos imersivos, experimentais e musicais nos Estados Unidos, que a levou a conquistar papéis na televisão e no cinema.
Sua estreia em Hollywood ficou marcada pela participação no filme sucesso de bilheteria ‘Pantera Negra’, vencedor do Oscar, onde deu vida à vilã Linda, parceira do personagem interpretado pelo estrelado ator Michael B. Jordan.

Entre outros trabalhos, participou da minissérie ganhadora do Emmy ‘Daisy Jones & The Six’, onde interpretou a pioneira de música disco, Simone Jackson.

Além de trajetória como atriz, Nabiyah vem construindo uma carreira musical. Neste ano, lançou o primeiro álbum, 'O Que o Sol Quer', um trabalho que explora suas raízes e conta com a colaboração de artistas renomados como Lucas Carvalho (do coletivo Afrocidade) e do produtor musical e compositor Marcelo Delamare.
A percussão, elemento fundamental na cultura baiana, é um pilar central em sua música. Sua vida e obra são profundamente influenciadas pela cultura baiana, algo que ela define como uma parte intrínseca de sua identidade.
Essa “baianidade” é um traço marcante em sua personalidade e em sua trajetória artística, refletida não apenas em suas canções, mas também em sua maneira de se relacionar com o mundo.
Confira a entrevista completa
Você poderia contar sobre seus pais, como eles se conheceram e como essa união aconteceu?
Nabiyah Be: Meus pais se conheceram numa cerimônia de Ayahuasca (ritual tradicional com raízes na Amazônia), na praia, através de Margareth Menezes, que é minha madrinha, nossa ministra. Minha mãe estava ali como tradutora, e precisava de alguém para traduzir a cerimônia e minha mãe foi escolhida. Daí eles (Jimmy e Sônia) se conheceram. E foi assim. Nasci em Salvador e fiquei até meus 18 anos.
Qual bairro você nasceu e morou?
Nabiyah Be: Eu nasci no bairro do Canela, mas eu cresci no bairro de Piatã.
Quanto tempo morou em Piatã e quais lembranças você se recorda?
Nabiyah Be: Morei até os 18 anos. Nossa, tenho muitas lembranças. Sempre digo que a minha infância foi a mais atípica, porque eu gostava de muita coisa. Minha adolescência foi muito baiana. Eu era muito fã de 'É o Tchan'. Vivi muito a cultura baiana, ouvia Araketu, Timbalada e Olodum.
Eu fui realmente atravessada por essa cultura, principalmente musical. Sinto que as raízes baianas, a níveis religiosos, políticos e sociais, eu só fui buscar um pouco depois. Na infância eu cresci numa certa bolha.
Seu pai morou com você também durante esses 18 anos?
Nabiyah Be: Morou, morou conosco até os meus 10, 11 anos. Tive essa experiência de ele estar em casa. Ele era meio que o mistério do bairro (risos).
Você acha que esse período que ele morou em Salvador teve alguma interferência nas canções, ou até mesmo na vida dele?
Nabiyah Be: Ah, eu acho que o Brasil foi marcante para ele, sim! Senão, ele não teria ficado tanto tempo. Acredito que teve interferência, sim.

Você lançou recentemente seu primeiro álbum, 'O Que o Sol Quer'. Como foi o processo de construção, de execução e agora de repercussão?
Nabiyah Be: Foi um álbum que demandou tempo, cerca de um ano e meio. Teve um processo de curadoria e também teve o processo de eu aprender a ser produtora, enquanto eu fazia o álbum, e sigo aprendendo, né? Até eu conhecer meus colaboradores, primeiro o Lucas Carvalho, que é o Seafro Brasil - também um cara baiano do Recôncavo -, e depois o Marcelo Delamare, que é meu principal colaborador. Mas até chegar a esse ponto, foi um período de aprimorar as canções, porque as composições já estavam prontas.
Você tem uma carreira já consolidada no cinema. Como é que foi sua estreia?
Nabiyah Be: Eu gosto de contar que 'Pantera Negra' foi meu primeiro filme, porque realmente foi um choque para mim. Até então, eu era uma servidora do teatro, eu vivi muito o teatro, fiz muito teatro. Fiz peças imersivas, peças experimentais, musical, que foi o que me lançou para os Estados Unidos.
Também fiz televisão nos Estados Unidos, uma série chamada ‘Daisy Jones & The Six’, da Prime Video. Eu tive, até então, muito mais experiência como atriz, na dança também, e agora é que as pessoas estão me conhecendo como cantora, compositora e produtora. Que talvez tenha sido um aspecto menos revelado da minha trajetória até então.
Vai ter show em Salvador?
Nabiyah Be: O povo está perguntando muito sobre isso. A gente vai fazer, sim! Vai fazer! E vai ser especial. Vamos fazer bonito. Eu não deixaria de cantar em Salvador jamais.
Da cena atual, quais artistas baianos você escuta?
Nabiyah Be: Tem uma galera fazendo música de qualidade na Bahia. Tenho escutado Melly, BaianaSystem, Luedji Luna, Rachel Reis… escuto também os mais antigos: Gil, Caetano e Novos Baianos,
Como a gente fala na Bahia: você tem dendê no sangue. Sendo assim, como a baianidade moldou sua personalidade, sua trajetória?
Nabiyah Be: Nossa! Sempre digo que eu sou uma brasileira atípica, mas talvez eu me perceba mais baiana do que brasileira em alguns aspectos. Rodei muito esse mundo, desde criança. Fiz turnê muito cedo, fui morar fora muito cedo, sozinha.
Então, acho que, de certa forma, ter crescido do jeito que eu cresci me deu um certo jogo de cintura e uma habilidade de me moldar, de enxergar o outro. O meu trabalho como atriz também, de me moldar no sentido de conseguir sentir para além de mim, entende? E a Bahia e seus mistérios fazem isso com a gente. Acho que todo mundo é muito enraizado e muito intuitivo, mesmo não sabendo.
Para finalizar, manda um recado para seus fãs da Bahia
Nabiyah Be: Gente, quero agradecer por estar aqui. Agradeço pela oportunidade de contar minha história, que é tão peculiar, atípica, mas continuo sendo baiana. E o recado que eu quero deixar é, na verdade, uma pergunta: O que é que o (seu) sol quer? Que é a música que dá nome ao meu primeiro álbum.
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