SAÚDE
Produção da Coca-Cola é suspensa por suspeita de contaminação de álcool
Especialista explica os riscos da ingestão do álcool etílico
Por Luan Julião

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) suspendeu preventivamente as atividades de uma unidade da Solar Bebidas, fabricante da Coca-Cola no Nordeste, após detectar uma possível contaminação por etanol alimentício no líquido de resfriamento usado na produção de refrigerantes, em Maracanaú, região metropolitana de Fortaleza (CE).
Durante inspeção realizada por técnicos do ministério, foi constatado que houve contato entre o líquido de resfriamento — que contém etanol de grau alimentício — e os produtos em processo de fabricação. A substância, embora utilizada em aplicações alimentícias e considerada segura em determinadas quantidades, não deve estar presente em refrigerantes, segundo a legislação vigente.
De acordo com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, o lote em questão ainda não foi comercializado. “O produto permanece estocado e não chegou ao mercado. Acreditamos que não houve contaminação”, afirmou. Ainda assim, cerca de 9 milhões de litros de bebidas foram retidos para análises laboratoriais.
A suspensão das atividades será mantida até que a empresa conclua os ajustes técnicos necessários e comprove, por meio de laudos, que não houve contaminação. A expectativa, segundo o ministério, é de que o processo seja finalizado ainda nesta quarta-feira, 4.
A preocupação do Mapa é identificar se houve o caminho inverso da contaminação: a presença do etanol no refrigerante, e não apenas do refrigerante no sistema de resfriamento. Fávaro explicou que, embora não haja risco sanitário grave em caso de ingestão acidental, a presença de álcool representaria uma não conformidade comercial, já que refrigerantes não devem conter etanol em sua composição.
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Especialista esclarece uso e riscos do etanol alimentício
O uso de etanol na indústria de alimentos não é exatamente incomum, como explica a nutricionista e professora Gesika Assunção. Segundo ela, trata-se de um composto químico inflamável, mas utilizado amplamente em diversas etapas da cadeia produtiva — desde bebidas alcoólicas até aplicações industriais em alimentos.
“O etanol, também conhecido como álcool etílico, é um composto químico facilmente inflamável, amplamente utilizado na indústria de alimentos. Ele não aparece apenas em bebidas alcoólicas, mas também é usado em outras aplicações alimentícias”, explica.
No caso específico da indústria de refrigerantes, o etanol pode estar presente como parte do sistema de refrigeração da linha de produção, mas não deve jamais estar na composição final do produto.
“Em alguns alimentos, a prática industrial é acrescer esse composto. Mas, em refrigerantes, ele atua no processo de resfriamento e não deve ser um componente ativo da bebida”, alerta Gesika.
A professora reforça que a ingestão de etanol não é adequada nesse contexto. Pequenas quantidades podem até ser toleradas em certos produtos — como vinhos ou licores —, mas qualquer presença indevida em bebidas não alcoólicas, como refrigerantes, levanta sérias preocupações de segurança.
“Se ativamos esse etanol dentro do refrigerante, temos riscos no processo de ingesta. Em pequenas quantidades, ele pode ser seguro e comum em bebidas alcoólicas. Porém, exposições elevadas podem causar danos”, diz.
Entre os principais efeitos colaterais do consumo acidental de etanol em altas doses estão danos ao fígado, intoxicação aguda com sintomas como náusea, vômito e perda de consciência, além do risco de morte por depressão respiratória ou coma.
“A ingestão de altas doses pode levar a sintomas graves de intoxicação. E em doses extremamente elevadas, pode causar até parada respiratória e levar o paciente a óbito”, completa.
Uso precisa ser regulado
Por isso, Gesika destaca a necessidade de regulamentação rígida do uso do etanol na cadeia alimentar. A substância, apesar de comum na indústria, exige protocolos de segurança bem definidos.
“A utilização de etanol em alimentos deve ser regulada. Isso inclui tanto o risco de exposição ocupacional quanto a segurança do consumidor final. Ingestão acidental de produtos com concentrações inadequadas precisa ser evitada e gerida com rigor”, defende.
Composição dos refrigerantes
Em relação à composição dos refrigerantes, Gesika lembra que a fórmula desses produtos já inclui uma série de substâncias que exigem controle cuidadoso — o que reforça a importância de evitar qualquer tipo de contaminação.
“Refrigerantes têm composição variada. Geralmente incluem água carbonatada, açúcares, ácidos como fosfórico ou cítrico, aromatizantes, conservantes e cafeína. A adição de um composto externo como o etanol pode interferir tanto na segurança quanto na estabilidade do produto”, explica.
Por fim, a professora ressalta que a presença acidental de etanol pode ter repercussões tanto na saúde dos consumidores quanto na credibilidade da indústria:
“O etanol tem implicações sérias. Quando falamos em refrigerantes, toda e qualquer substância fora do padrão precisa ser tratada com total atenção. A segurança do consumidor deve ser sempre prioridade.”
O que diz a empresa
Confira a nota da Solar na íntegra:
"A Solar informa que a unidade de Maracanaú (CE) interrompeu temporariamente suas operações em consonância com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Essa pausa foi realizada preventivamente, e estamos atualmente conduzindo testes rigorosos para comprovar a total segurança de nossos produtos. Estamos empenhados em retomar as atividades o mais rápido possível. As licenças de funcionamento da unidade permanecem válidas e atuais, com práticas sendo auditadas continuamente, tanto internamente quanto externamente. A unidade é certificada pela ISO 9001 de gestão da qualidade e pela FSSC 22000 de segurança de alimentos. A Solar segue rigorosos protocolos de controle sanitário e de qualidade, reafirmando seu compromisso com altos padrões internacionais de produção, segurança alimentar em todas as etapas. Reforçamos o compromisso e diálogo com as autoridades e reiteramos que nossos produtos são 100% seguros, sem qualquer risco para os consumidores. Todas as demais operações da Solar seguem funcionando normalmente."
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