SAÚDE
Duas cidades da Bahia eliminam transmissão vertical do HIV; saiba quais
Relatório da Sesab indica que incidência do vírus em crianças foi menor que 0,5 por cada mil nascidos vivos
Por Leo Prado*

Com o avanço das ações de apoio e acompanhamento, a Bahia tem se destacado no combate à transmissão vertical do HIV, que ocorre quando é passada de mãe para filho. De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), o número de crianças diagnosticadas após o parto de mães com a doença reduziu em mais da metade entre 2022 e 2023, quando passou de 3,6% para 1,9% dos casos. O estado ainda alcançou a meta da taxa de incidência nestes anos, sendo 0,1 crianças com HIV a cada 1.000 nascidos vivos (NV).
Os números coincidem com o relatório do Ministério da Saúde divulgado na última terça-feira. O documento mostrou que a taxa de transmissão vertical no Brasil, em 2023, foi inferior a 2%, e que a taxa de incidência de HIV em crianças foi menor que 0,5 caso por nascidos vivos. “Hoje, nós temos tratamentos e protocolos capazes de eliminar esse tipo de infecção”, garante Eleuzina Falcão, coordenadora de Doenças e Agravos Transmissíveis da Sesab.
Conforme o último Boletim Epidemiológico HIV/AIDs da Sesab, referente ao ano de 2023, o número de casos de crianças menores de 5 anos diagnosticadas reduz desde 2021, quando foram 13, sendo 11 em 2022 e 9 em 2023. Os números da década passada chegaram a atingir mais que o dobro em relação aos atuais. Em 2014, foram registrados 23 diagnósticos em crianças, 16 em 2015, 18 em 2016, e 19 em 2017.
O boletim também mostra que o diagnóstico das gestantes que convivem com HIV tem sido feito, majoritariamente, no tempo correto.
Entre 2014 e 2023, 49,3% das mães foram diagnosticadas durante o pré-natal, 39,5% já possuíam o diagnóstico antes da gravidez, 8,5% no momento do parto, 1,6% após o parto e 1,1% com informação ignorada. Em 2023, foram 450 gestantes diagnosticadas com HIV, uma taxa de 2,6 por mil nascidos vivos.
“O diagnóstico é de extrema importância. Uma mulher que não é diagnosticada não vai ser acompanhada, e vai parir, muitas vezes, sem saber que pode transmitir para a criança”, conta Eleuzina.
Duas cidades baianas receberam o certificado do Ministério da Saúde de eliminação da transmissão vertical do HIV: Vitória da Conquista, em 2023, e Luís Eduardo Magalhães, em 2024. Outras cidades já receberam o “Selo Prata” de boas práticas, como Eunápolis, Teixeira de Freitas, Jequié, Barreiras, Porto Seguro e Santo Antônio de Jesus.
Suporte
A doméstica Elba Lopes, 39 anos, que convive com a doença, é um exemplo de mãe que contou com ajuda para que sua filha, hoje com 7 anos, não contraísse o vírus.
Na Instituição Beneficente Conceição Macedo (Ibcm), que atua em Salvador desde 1989 com serviços para pessoas com HIV e Aids, ela foi assistida durante e após a gestação. Além disso, no Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa (Cedap), da Sesab, recebeu tratamento médico. “Graças a tudo isso, hoje minha filha está ‘de boa’. Às vezes o mundo vira as costas para a gente devido ao preconceito. Mas no Instituto e no Cedap eu fui abraçada”.
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A primeira filha de Elba, no entanto, nascida há 10 anos, convive com o vírus HIV transmitido pela mãe. “Na época, eu não fiz acompanhamento, não fiz o pré-natal correto, e nem os exames. Também não ia às consultas, se fui, foi no máximo duas vezes”.
A ginecologista e obstetra Ana Gabriela Álvares, que atua no pré-natal de gestantes com HIV atendidas pelo Cedap, comenta os números: “Se deve ao trabalho, tanto da atenção primária dos postos de saúde que estão fazendo teste rápido, identificando o vírus e encaminhando a gestante para os serviços, quanto pelo acompanhamento feito nos pontos de referência. Aqui no Cedap, as pessoas com HIV são atendidas por uma equipe multiprofissional. É um serviço bem amplo”.
O processo é minucioso: “A gestante recebe a medicação antirretroviral, que impede que o vírus passe para bebê. Orientamos sobre cuidados do parto e suspendemos a amamentação após o nascimento. E acompanhamos a criança até um ano e meio a dois anos de idade, que também utiliza o antirretroviral por 28 dias”.
Gerente do Ibcm, o padre Alfredo Dorea conta que a instituição já atendeu mais de 15 mil pessoas ao longo dos 36 anos de existência. Dessas, nenhuma das gestantes tiveram filhos diagnosticados com HIV, devido ao apoio dado no local. “Atuamos com o que o estado não consegue. Fornecemos transporte, a cesta básica mensalmente e monitoramos para que o tratamento não seja interrompido”.
*Sob a supervisão da editora Meire Oliveira
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