VIDA NOVA
Cisternas transformam vidas no semiárido e tiram famílias da fome
Reportagem mostra como o programa de cisternas garante água, produção e dignidade no semiárido brasileiro

Por Miriam Hermes

“Não dá nem pra comparar o antes e o depois das cisternas”, afirmou a produtora rural Nely Dantas da Silva, 58 anos, moradora da Fazendinha Lagoa Comprida, zona rural de Malhada de Pedras. “A gente tinha que buscar água 8 km longe de casa e hoje a gente tem água em casa não só pra beber, mas também pra plantar nossas comidas e criar alguns animais”, complementou.
Sem esconder a satisfação com a “nova vida”, ela lembrou que há mais de 10 anos ganhou a 1ª cisterna, de 16 mil litros para necessidades da família. E há mais de oito anos foi agraciada com a 2ª cisterna, de 52 litros que é utilizada para dessedentar animais e cultivar alimentos com pequena irrigação.
Ao se alimentar com a própria produção e consumir água boa, as famílias do semiárido estão mais saudáveis e também saindo do mapa da fome, somando uma junção de esforços entre iniciativas privadas e públicas. Além das cisternas, as ações incluem capacitação e assistência técnica (fomento rural), refletindo na qualidade de vida.
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Na última temporada, as chuvas na região semiárida da Bahia ficaram abaixo da média, provocando secas em diferentes graus em 85% do território baiano, conforme última divulgação do Monitor de Secas da Agência Nacional de Águas (Ana). “Nossa sorte é que temos as cisternas, com água boa”, afirmou a produtora Nely da Silva, acrescentando, que a esperança é a chuva chegar até final de outubro e início de novembro.
Segundo a diretora do Departamento de Promoção da Inclusão Produtiva Rural e Acesso à Água do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), Camile Sahb, os impactos das mudanças climáticas atingem com mais intensidade a população pobre, tanto nas secas, quanto nas enchentes.
Para ela a junção das forças traz resultados efetivos e muda o conceito sobre o semiárido brasileiro. “Estamos desenvolvendo condições para estimular a convivência com a seca”, salientou, asseverando que com o apoio necessário a população tem vida digna na região.
Até 2024 a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e o governo federal tinham construído mais de 1,3 milhão de cisternas, principalmente nos estados do Nordeste. Na Bahia já foram construídas 374.871 cisternas em toda a história do programa.
Nos locais de clima semiárido não chove por cerca de seis meses consecutivos, representando dificuldades recorrentes para sobrevivência da população neste período.
Tecnologias sociais

O programa das cisternas “veio democratizar o armazenamento das águas das chuvas”, disse o membro da coordenação executiva da ASA Bahia e da ASA Brasil, Naidison de Baptista Quintella. Ele destacou que, “historicamente no semiárido os grandes produtores sempre tiveram apoio estatal para construir barragens e aguadas nas propriedades para reservar as águas das chuvas para meses de seca”.
Tudo começou em 1999 através da ASA com o Programa 1 Milhão de Cisternas (P1MC) para construção dos reservatórios de 16 mil litros e, a partir de 2003 passou a integrar as ações do governo federal, com ampliação dos modelos de captação da água da chuva e opção também para reservatórios maiores. Quintella observou que para atender a atual demanda, ainda são necessárias mais 800 mil cisternas para as regiões secas e enfatizou que o trabalho integrado.
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