7 DE SETEMBRO
O ensaio bolsonarista de Tarcísio de Freitas
Artigo de Cláudio André de Souza analisa o ato bolsonarista e a pauta da anistia

Por Cláudio André de Souza*

Mais uma vez o ato de 7 de Setembro na Avenida Paulista (SP) organizado pela turma bolsonarista deixou claro que a oposição decidiu investir na pauta da anistia como recurso estratégico de mobilização. A presença de milhares de apoiadores mostrou vitalidade da base bolsonarista, mas o objetivo não era apenas reafirmar uma mera lealdade ao ex-presidente Jair Bolsonaro. O ato serviu como um movimento calculado de antecipação de cenário, já que o ex-presidente será julgado e condenado na próxima sexta-feira, 12, pelo Supremo Tribunal Federal.
Com discursos de várias lideranças da direita, as falas se concentraram nas críticas ao Ministro do STF, Alexandre de Moraes. O jogo de cena em concentrar as críticas ao STF busca consolidar a narrativa de perseguição e reforça a narrativa de que os julgamentos possuem uma natureza político-partidária.
A fala de Tarcísio no ato já mostra uma guinada calculada contra o STF para agradar os bolsonaristas: a luta contra a condenação de Bolsonaro está associada à ascensão do governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) como pré-candidato a presidente. A sua movimentação por Brasília nas últimas semanas confirma a estratégia eleitoral de ser herdeiro eleitoral de Bolsonaro, mas antes precisará do “passaporte” de fiel escudeiro do bolsonarismo, o que inclui falas, declarações e entrevistas a favor da anistia do seu líder.
A movimentação de Tarcísio inclui duas frentes estratégicas: em primeiro lugar, o governador paulista reafirma lealdade a Bolsonaro para não perder a conexão com a base bolsonarista, que ainda é numericamente decisiva. A presença no ato de 7 de Setembro na Paulista mostrou que ele pretende reforçar os seus laços com o ex-presidente, legitimando-se como guardião da bandeira da anistia, o que mobiliza o núcleo mais fiel do bolsonarismo. Em segundo lugar, Tarcísio modula o discurso, evitando ataques diretos ao STF, preservando uma imagem de liderança pragmática alinhada ao empresariado, mercado financeiro e demais setores importantes da economia nacional. O cálculo é claro: apresentar-se como sucessor possível, mas sabendo que a sua eleição depende dos votos de quem está fora da bolha do bolsonarismo.
As próximas semanas tendem a ser de pressão intensa no Congresso em torno da anistia. Mais do que um projeto jurídico, trata-se de um instrumento político para fragilizar Lula e aquecer a base bolsonarista. Mesmo que não avance, a pauta já cumpre seu papel: tumultua a governabilidade de Lula e pavimenta o caminho para que Tarcísio seja lançado como o candidato bolsonarista em 2026. O ato de ontem mostra um novo “Tarcísio bolsonarista” inclinado a abraçar o discurso da anistia e a sua lealdade ao ex-presidente.
*Professor Adjunto de Ciência Política da Unilab e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB).
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