EC BAHIA
Crescer dói: Bahia tropeça de novo e expõe limites da gestão City
Nova eliminação escancara falhas de planejamento, apatia do elenco e desprezo pelas joias da base sob a gestão do Grupo City
Por Rafael Tiago

O torcedor do Bahia parece viver eternamente em um ciclo de frustração emocional — como se estivesse preso em um livro de autoajuda, onde cada capítulo promete evolução, mas entrega apenas sofrimento. A expressão "crescer dói", tão recorrente entre psicólogos e educadores para descrever o processo de amadurecimento, tornou-se parte do vocabulário cotidiano da Nação Tricolor. E como em uma profecia autorrealizável, essa frase ecoa com ainda mais força a cada eliminação dolorosa, como a recente queda para o América de Cali, nos playoffs da Copa Sul-Americana.
Eliminações em sequência e o déjà-vu tricolor
O roteiro da eliminação para o modesto time colombiano não foi inédito. Ele segue uma linha de fracassos recentes que o Bahia, sob a gestão do Grupo City, coleciona em momentos decisivos. No ano passado, o time foi eliminado da Copa do Brasil após perder as duas partidas por 1x0 para o Flamengo, mostrando a já famosa apatia. No Brasileirão, penou para garantir uma vaga na pré-Libetadores, após ter um início de temporada avassaldor.
Mais recentemente, na fase de grupos da Libertadores, a apatia foi a protagonista de jogos como Bahia 1x3 Nacional-URU, Atlético Nacional 1x0 Bahia e Internacional 2x1 Bahia — confrontos nos quais o time parecia incapaz de reagir ou se impor minimamente. O que se viu contra o América de Cali, portanto, foi a repetição de uma postura covarde, lenta, previsível e sem alma. Jorge Soto, goleiro do adversário, terminou os 180 minutos sem sequer fazer uma defesa difícil. Não por mérito do América, mas por pura inoperância do Esquadrão.
Elenco sem alma e projeto que não empolga
Enquanto outras SAFs como Botafogo, atual campeão Brasileiro e da Libertadores, e Cruzeiro, atual líder do Brasileirão, mostram evolução dentro e fora de campo, com contratações certeiras e treinadores ousados, o Bahia parece emperrado num processo interminável de "reestruturação". O discurso do “projeto de médio e longo prazo” virou desculpa pronta para justificar a falta de resultados no presente.
O elenco tricolor parece desmotivado, sem identidade, e incapaz de entregar o mínimo que se espera de um time administrado por um dos maiores conglomerados do futebol mundial. Jogadores como Iago Borducchi, Rodrigo Nestor e Luciano Rodríguez, apesar do investimento, não justificam suas escalações. Lucho, por exemplo, parece caminhar para o mesmo destino de Johanner Chávez: a saída precoce para “respirar novos ares”. Nestor, então, é o retrato da apatia — se arrasta em campo, não vibra, não arrisca, não contribui.

Carências óbvias e erros reincidentes
Entre as muitas deficiências, o gol virou um buraco negro. Marcos Felipe, mais uma vez, falhou em jogo decisivo. A insistência no goleiro, apesar da sequência de erros, beira o desrespeito ao torcedor. É urgente a chegada de um novo titular — nomes como Patrick Sequeira, da Costa Rica, deveriam ser prioridades com a força financeira do Grupo City. Ronaldo não tem nível de Série A, e Danilo Fernandes, com todo o respeito, já não tem condição de competir em alto nível.
Outros setores gritam por reforços. O meio-campo, sem Everton Ribeiro, simplesmente não funciona. A ponta esquerda carece de substituto para Pulga. As peças de reposição, quando existem, não têm capacidade de manter o padrão. Faltam opções na zaga, faltam centroavante e lateral-esquerdo.
Base ignorada: talento escondido ou sabotado?
E em meio a esse marasmo, o que dizer da falta de oportunidades para as joias da base? Garotos como Dell, Ruan Pablo, Sidney, Vitinho e Jota vivem à sombra de medalhões em baixa e contratações questionáveis. Jogadores formados no CT Evaristo de Macedo, com fome, intensidade e identidade com o clube, sequer são testados em momentos de crise. Falta coragem a Rogério Ceni? Ou é diretriz fria e calculada do Grupo City, que trata o Bahia como uma peça menor no seu tabuleiro global? Seja qual for a explicação, ignorar a base é desperdiçar a alma do clube — e pode custar caro, dentro e fora de campo.

Enquanto isso, os outros crescem...
O torcedor olha ao redor e vê o mercado se movimentar. Botafogo contratou certo, manteve uma base competitiva e apostou em um treinador com fome de glória. Cruzeiro, após quase fechar as portas, hoje lidera o Brasileirão com solidez. O Bahia, por sua vez, parece sempre à beira de um avanço que nunca se concretiza. Toda vez que o time pode dar um salto, vacila. Toda vez que há uma porta aberta, o elenco hesita. É como se os jogadores internalizassem a máxima: "pra quê ir tão rápido, se o projeto é de longo prazo?".
Uma SAF sem espírito de SAF
O Grupo City não chegou ao Bahia para disputar estaduais e Nordestões apenas. Mas, com essa base e sem mudanças profundas — inclusive no comando técnico —, esse será o teto. O Bahia precisa mais do que dinheiro: precisa de mentalidade vencedora. Precisa de jogadores com fome e técnicos com ambição. Precisa entender que crescer não é só sofrer: é aprender, corrigir, evoluir.
Hoje, o que temos é um clube paralisado entre a promessa e a realidade. O Bahia não é time satélite e nem time para conquistar torneios. Crescer dói — mas estagnar, no futebol, machuca ainda mais.
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