Aprovação do PL da Dosimetria é tapa na cara do povo brasileiro

Na calada da madrugada, a Câmara dos Deputados aprovou de maneira envergonhada o PL da Dosimetria, que reduz as penas para os envolvidos nos episódios golpistas recentes do país. Na prática, venceu, mais uma vez, a impunidade tão presente na política brasileira.

Na tentativa de chocar menos, os deputados passaram um verniz na anistia, tão mal recebida pela população e fruto de uma das maiores manifestações populares vistas no país nos últimos anos. Saiu o primeiro nome e entrou a 'dosimetria', que diminuiu drasticamente, para não dizer 'absurdamente', as penas para os envolvidos no fatídico 8 de Janeiro.

No 'balaio', até mesmo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado a mais de 27 anos por golpe de Estado, deve ser beneficiado, ficando apenas dois anos e meio em regime fechado após atentar contra a democracia e não aceitar a derrota imposta pelas urnas.

Menção nada honrosa para a condução de Hugo Motta (Republicanos), presidente da Câmara dos Deputados, que colocou o projeto em pauta sem qualquer aviso prévio, e protagonizou, sem ter coragem de aparecer, um dos momentos mais vergonhosos da história da Câmara dos Deputados, ao permitir a truculência da Polícia Legislativa com um deputado dentro do plenário, cortar o sinal da TV Câmara e expulsar a imprensa do espaço.

Hugo Motta, que citou de maneira empolgada Ulysses Guimarães ao tomar posse como presidente da Casa, deixou claro que não segue, na condução da Casa, os mandamentos do pai da Constituição Federal, que jamais permitiria tal episódio no plenário da Câmara.

A forma em que a votação foi conduzida, sendo concretizada por volta das 4h desta quarta-feira, 10, mostrou o acovardamento do parlamento diante da pauta impopular e polêmica, que pode impactar nos rumos da eleição do próximo ano.

Fica registrado nos anais da Câmara dos Deputados o tamanho da legislatura, que se envergonha ao compactuar com a injustiça e com o crime, uma vez que os beneficiados com a redução das penas são criminosos que atentaram contra o bem mais precioso de uma nação: a democracia.

Se passar no Senado, o PL da Dosimetria vai consagrar o Congresso como uma das piores formações da história pós-redemocratização. O pior: vai escancarar a falta de compromisso dos parlamentares com as demandas do povo.

O Brasil espera de braços cruzados, mas atento ao que acontece, que o bom senso volte a prevalecer entre os deputados e senadores, que insistem em uma pauta que faz valer a impunidade.