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A TARDE AGRO

Gado rastreável: pecuária sustentável é a norma

Novas tecnologias possibilitam aliar produtividade e preservação ambiental

Joana Lopo

Por Joana Lopo

19/03/2025 - 8:00 h
Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) é aliada para conciliar produtividade e preservação
Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) é aliada para conciliar produtividade e preservação -

No coração do semiárido baiano, onde o gado pasta sob um sol inclemente, uma revolução tecnológica transforma a pecuária com precisão. A Bahia, terceiro maior exportador agrícola do Nordeste, avança na integração entre tradição e inovação, usando tecnologia para aliar produtividade à preservação do bioma. “A digitalização não é uma opção, mas uma necessidade para atender demandas globais por segurança alimentar e sustentabilidade”, afirma o secretário da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri), Wallison Oliveira (Tum).

Nas fazendas de leite do Oeste baiano, robôs de ordenha monitoram vazões e qualidade do produto em tempo real, enquanto raspadores automáticos mantêm estábulos limpos. Sensores implantados em brincos eletrônicos detectam sinais de doenças antes mesmo de sintomas aparecerem.

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“A pesagem eletrônica permite ajustar a alimentação de cada animal, elevando a eficiência em 20%”, explica Tum. Essas ferramentas, antes restritas a países de agro avançado, começam a ganhar escala em propriedades médias, impulsionadas por linhas de crédito específicas.

É nesse cenário que as empresas locais investem em tecnologia para crescer ainda mais. De acordo com o gerente da Cene Agro, localizada em Juazeiro, Eduardo Medeiros, o que se destaca na pecuária baiana é o setor de produção de silagem de alta qualidade, feno, genética de gado Sindi e confinamento de bovino e ovino. Na empresa, Medeiros conta que já usam a agricultura irrigada via pivô automatizado e sistema de colheita de feno e silagem mecanizada.

“Temos também tecnologias com drone para agricultura, manejos de precisão, software de gestão e outros que otimizam os processos, tornando-os eficientes e precisos, além de aumentar a produtividade e reduzir de custos. Em cinco anos, seremos o maior produtor de feno e boi de corte do Nordeste”, revela Eduardo Medeiros.

Mas não são apenas as empresas que se valem da tecnologia para aperfeiçoar os processos. A Agência de Defesa Agropecuária (Adab) incorporou drones como aliados estratégicos. Equipados com câmeras térmicas, os veículos aéreos mapeiam desmatamentos ilegais, monitoram nascentes e inspecionam abatedouros em regiões remotas. “A tecnologia reduz o tempo de vistoria de dias para horas, além de minimizar riscos aos fiscais”, destaca Tum.

Segundo ele, recentemente, os drones passaram a auxiliar na inspeção final de novos empreendimentos, garantindo que cumpram normas sanitárias antes de entrarem na lista de exportadores.

Se por um lado grandes propriedades adotam sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) com auxílio de big data, por outro, 62% dos produtores baianos são de pequena escala, muitos ainda à margem da transformação digital.

“Acesso limitado à internet e custos elevados são barreiras”, reconhece o titular da Seagri. Parcerias entre startups, cooperativas e o governo tentam reverter o cenário: aplicativos como o AgroHelp conectam técnicos a produtores para orientar manejo integrado de pragas (MIP) via celular.

Entre as diferentes modalidades do ILPF, a de maior impacto, segundo o pesquisador da Embrapa, José Henrique Rangel, e mais usada de forma generalizada nas diferentes regiões brasileiras é a integração Lavoura-Pecuária do milho com o pasto de braquiária, que oferece forragens aos rebanhos e contribui para estruturar o solo.

“Especificamente para as áreas do SEALBA (Sergipe, Alagoas e Bahia), essa modalidade vem sendo usada de maneira crescente. Na Zona da Mata de Alagoas, Pernambuco e Paraíba, a consorciação milho/braquiária/eucalipto já é uma realidade na pecuária de corte que, no caso de Alagoas, em substituição à cultura da cana de açúcar. Nas bacias leiteiras de Sergipe, Alagoas e Pernambuco, as diversas modalidades do consorcio da Gliricidia sepium com milho, palma forrageira, sorgo e braquiarias tem se intensificado, principalmente entre os pequenos e médios criadores, que formam a grande maioria”, detalha.

Segundo o pesquisador, no semiárido da Bahia, onde a pecuária enfrenta solos áridos e secas prolongadas, a já citada leguminosa de nome complexo - Gliricidia sepium - também está reescrevendo as regras da produção. Integrada a sistemas como Lavoura-Pecuária (ILP) e Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), a planta, resistente ao clima hostil, tornou-se aliada estratégica para produtores que buscam conciliar produtividade e preservação.

Sustentabilidade e lucro

Na região de Barreiras, propriedades combinam soja, capim e eucalipto em um mesmo espaço, triplicando a rentabilidade por hectare. “A ILPF reduz emissões de metano em 35% e sequestra carbono”, ressalta o secretário Tum. Já o sistema de plantio direto (SPD), adotado em 28% das lavouras, mantém a palhada no solo, diminuindo erosões e elevando produtividade em até 40%. “São tecnologias que nasceram no cerrado e agora se adaptam à caatinga”, complementa.

Para o titular da Seagri, a chave está em equilibrar ganhos financeiros e preservação. “Não há sustentabilidade sem rentabilidade. Sistemas integrados geram emprego, protegem o solo e garantem margens competitivas”, pontua. Prova disso é o crescimento de 18% na exportação de carne baiana para a União Europeia em 2023, atrelado a certificações ambientais.

Cargill: tradição e tecnologia

A Cargill escreve um capítulo inovador na pecuária nacional. Com 160 anos de história e a Nutron como marca de nutrição animal, a empresa lidera uma revolução tecnológica em suas fazendas, combinando drones, IA e gestão de dados para transformar a criação de bovinos em ciência exata.

"A tecnologia não se resume ao que é mais moderno. Às vezes o ‘novo’ pode ser um simples aprimoramento no manejo de pastagens”, observa o coordenador técnico da Cargill/Nutron para bovinos de corte no Oeste, Diego Ferreira.

Em fazendas parceiras, softwares como o Cargill CattleView - equipado com drones e IA - analisam o consumo de ração por curral e estimam o peso dos animais por meio de imagens diárias. “Um cocho fotografado às 6h pode redefinir a dieta das 18h”, exemplifica.

Na região em que se concentram alguns dos maiores confinamentos do Nordeste, a Cargill implanta sistemas capazes de monitorar variáveis, como conversão alimentar e bem-estar animal, em tempo real. Sensores acoplados a cochos enviam alertas quando o consumo foge do padrão, enquanto algoritmos predizem ganho de peso sem balanças físicas.

“São decisões baseadas em terabytes de dados, não em ‘achismos”, destaca.

A estratégia rende frutos: propriedades assistidas pela Nutron reportam altas de até 15% em produtividade. Por trás das ferramentas digitais, há um trabalho meticuloso. Anualmente, o Laboratório da Cargill (Labtron) processa mais de 70 mil análises de solo, ração e nutrientes, customizando dietas para cada bioma baiano.

“Não existe fórmula mágica universal. O que funciona no cerrado pode falhar no semiárido”, explica.

Apesar dos avanços, Ferreira alerta para os modismos. “Redes sociais vendem milagres, mas cada fazenda é um ecossistema único. Investir em drones sem dominar o básico é como comprar um avião sem pilotos”.

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Tags:

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