AGRONEGÓCIO
Do oeste para o mundo, Bahia projeta novo recorde de exportações de algodão
Região investe em tecnologia e sustentabilidade para cultivar um produto de alta qualidade

Por Joana Lopes e Laura Pita*

O Brasil encerrou a safra 2024/25 com um marco histórico: 2,875 milhões de toneladas de algodão vendidas ao exterior, consolidando o país como o maior exportador mundial da pluma. Agora, a expectativa é de novo avanço, já que a Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea) projeta 2,970 milhões de toneladas exportadas na safra 2025/26.
No centro desse desempenho está o oeste baiano, que alia tecnologia de ponta, qualidade de fibra e estratégias de sustentabilidade para enfrentar os impactos da crise climática e ampliar a competitividade nos mercados internacionais. Assim, a Bahia desponta como segundo maior estado cotonicultor do país, atrás apenas do Mato Grosso.
Nos últimos cinco anos, a Bahia aumentou em 65% a produção de pluma (passando de 506 mil toneladas em 2021 para 836 mil toneladas na última safra) e subiu 49% em volume de exportações (de mais de U$S 619 milhões para mais de U$S 924 milhões).
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Nesse cenário, a promoção internacional tem sido estratégica. O programa Cotton Brazil, parceria entre Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa), Anea e ApexBrasil, vem ampliando a presença da pluma nacional em mercados diversificados.
Enquanto a China, que já respondeu por mais da metade das exportações brasileiras, hoje representa cerca de 17%, países como Vietnã, Paquistão, Bangladesh e Turquia ganham força como destinos. A logística também acompanha esse crescimento e, nos últimos anos, Salvador se consolidou como rota estratégica de escoamento.
De acordo com produtores e representantes do setor, o aumento das tarifas para a importação de produtos brasileiros nos Estados Unidos não afeta a venda internacional do algodão, já que o Brasil não exporta a fibra como matéria-prima natural para lá. Nesse aspecto, os dois países são concorrentes: hoje o Brasil é o maior exportador mundial e os Estados Unidos são o segundo.

O maior desafio é a concorrência com as fibras sintéticas. “Há uma estagnação do consumo de algodão há 10 anos no mercado internacional, e há 20 anos na indústria brasileira, devido à substituição desenfreada do algodão por fibras sintéticas”, afirma Gustavo Prado, diretor executivo da Associação Baiana de Produtores de Algodão (Abapa).
Dawid Wajs, presidente da Anea, lembra que, enquanto a fibra natural é biodegradável, as demais geralmente são derivadas do petróleo e demoram séculos para se decompor, transformando-se em microplásticos no meio-ambiente. “O algodão brasileiro tem os atributos de sustentabilidade, biodegradabilidade e menor impacto ambiental, sendo parte de uma cadeia produtiva alinhada aos mercados mais exigentes”, ressalta.
Condições favoráveis
Além disso, as condições climáticas favoráveis do oeste do estado —com boas condições de chuva, luminosidade e temperatura— aliadas ao investimento em tecnologia conferem ao produto diferenciais de qualidade.
“Produzimos, em média, 300 arrobas por hectare e o nosso algodão está cotado entre os melhores do país. Temos empresas pioneiras no melhoramento genético das plantas em relação à maior tolerância às altas temperaturas e ao estresse hídrico e maior quantidade de botões”, afirma Mirian Guerra, doutora em fitotecnia e professora da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob).

Esses cuidados fazem com que o algodão baiano seja mais branco e com maior comprimento de fibra. “Com apoio da irrigação e da modelagem agrometeorológica, conseguimos reduzir os impactos da crise climática e manter a uniformidade da produção”, confirma Gustavo Prado, presidente da Abapa.
O êxito do produto é certificado pelo programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), gerido pela Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa) e a Better Cotton (BCI), que atesta a sustentabilidade ambiental, social e econômica do setor.
“Essa Certificação da Qualidade, reforça o compromisso da região na contenção de impactos ambientais. O algodão do oeste baiano impulsiona o estado como uma potência no agronegócio global, com práticas inovadoras que garantem a qualidade e a responsabilidade socioambiental do produto”, afirma Joselmo Fagundes, gerente administrativo da FMP Algodoeira do oeste, localizada em São Desidério.
*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló.
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